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Coluna

Remendo novo

14 agosto 2023 - 13h43

Escolinha do Professor Raimundo era um programa humorístico exibido na televisão brasileira. Nele, um personagem chamado Rolando Lero distorcia as perguntas que lhe eram dirigidas. Certa vez, corrigido pelo professor, que afirmou que o que estava sendo perguntado estava na Bíblia, ele retrucou: “Na Bíblia?! Então é verdade, meu Deus!!!”.  A Bíblia ensina, por meio de uma parábola, que não se deve colocar remendo novo em pano velho (Evangelho de Lucas, capítulo 5, verso 36), porque o remendo novo vai encolher e rasgar o velho, provocando um buraco maior do que o anterior. Na verdade, todo remendo tem a função de reparar alguma coisa em cima de uma estrutura já existente. É o que mais se vê nas estradas e ruas das nossas cidades, quando buracos são tampados com remendos de asfalto novo, e na primeira chuva abrem novamente e maiores.

Nas corporações não é diferente. Remendar velhas estruturas é perda de tempo e dispêndio de recursos, pois sempre se esbarra em paradigmas que são difíceis de serem quebrados.

Lembro uma experiência que tive quando era estudante do ensino primário (fundamental) e minha professora, ao ver meu caderno cheio de borrões, de tanto apagar com a borracha, arrancou a página e disse: “Faça tudo de novo, sem remendos vai ficar muito melhor”. Ela tinha razão.

Mas os remendos não são aplicados somente em coisas físicas, na política é o que mais se vê. Temos como exemplo o próprio Princípio Republicano. Em 1889 foi decretada a República no Brasil, que redundou na reorganização da estrutura política do país. De lá até agora, esta estrutura foi alterada seis vezes, o que nos leva a pensar numa citação do político e pensador francês Louis de Saint-Just (1767 – 1794), que disse: “Toda a gente está ansiosa pela República; ninguém quer nem a pobreza, nem a virtude”.  A Velha República, que começou em 1889 e se estendeu até 1930, teve duas fases: A República da Espada (1889 a 1894) e a República Oligárquica (1894 a 1930). Estas fases foram caracterizadas por crises como: ocorrência de desigualdade social, pobreza, violência policial, medo e fanatismo religioso. Mudou alguma coisa? 
Qualquer semelhança com os tempos atuais será mera coincidência. A segunda alteração ocorreu em 1930 com o Governo Provisório encerrado em 1937; A terceira ficou conhecida como Estado Novo, com vigência de 1937 a 1945; A quarta República se estendeu de 1945 a 1964; A quinta foi marcada pelo golpe militar que perdurou de 1964 até 1985. Até que a promulgação da nova Constituição em 1988 estabeleceu a República Nova, atualmente em vigência.

A Constituição brasileira é a segunda maior do mundo, possui 250 artigos e conta com 128 emendas, que podemos chamar de “remendos”, fora os incisos e parágrafos que somam milhares. E o interessante é que ninguém pode se escusar de cumpri-la alegando desconhecimento (Art. 3.º, Lei Introdução ao Direito Brasileiro).  Apesar de tantos “remendos”, ainda carece de efetividade. 

Sonhar com uma República justa e igualitária é quase uma utopia, mas não se pode perder a esperança, é preferível sonhar, como fez Ruy Barbosa (1849 – 1923), polímata e jurista brasileiro, o “Águia de Haia”, ao dizer: “A República não precisa  fazer-se terrível, mas de ser amável; não deve perseguir, mas conciliar; não carece de vingar-se, mas de esquecer; não tem que se coser na pele das antigas reações, mas alargar e consolidar a liberdade”.