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Coluna

Síndrome do pequeno poder

08 março 2024 - 11h01

Uma conhecida citação atribuída a Abraham Lincoln (1809 - 1865), 16º presidente dos Estados Unidos, diz: “Se você quer testar o caráter de um homem, dê-lhe poder”. Realmente, o poder é inebriante, mexe com a estrutura psicológica de muitas pessoas, subentendendo como poder a ascensão econômica, social, religiosa e, principalmente, política. Uma atitude de autoritarismo por parte de um indivíduo que, ao receber um poder, usa-o de forma absoluta, tirânica e imperativa, sem se preocupar com as consequências e problemas periféricos que possam vir a ocasionar, é classificada como “Síndrome do Pequeno Poder”. 

Esta síndrome faz com que as pessoas imaginem que detenham um poder maior do que as outras. Na maioria das vezes, este poder imaginário é proveniente de tradições de fundo dogmático, religioso, pela força bruta ou legal. Há uma ilustração que mostra um gatinho se olhando em um espelho, só que em lugar da sua imagem ele vê um leão. É dessa forma que muitos se comportam quando são alçados a posição de relevância e autoridade. Heleieth Saffioti (1934 – 2010), socióloga marxista, a respeito desta síndrome, assim se manifestou: “É um problema social e não individual, característico da nossa sociedade. Surge quando a pessoa não se contenta com sua pequena parcela de poder e se assume como superior ou detentora de responsabilidade sobre a liberdade do outrem, exorbitando da sua autoridade”.

A Constituição brasileira estabelece no seu artigo 1º, parágrafo único, a seguinte determinação: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Os termos referidos falam de direitos iguais, não admitindo coação, fazendo uso indevido de poderes judiciais, políticos e sociais, como denúncia caluniosa, alienação parental e outras formas de punições geradas por falsas acusações de violências e outras aberrações.

Em todo o mundo se repetem as mesmas práticas da subjugação do cidadão pela ação tirânica dos que detém poder. Conflitos são gerados por esta síndrome mediante pequenas ações que atrapalham os direitos e o bem-estar dos cidadãos, em confronto com questões de legalidade. O excesso de burocracia, azucrinando a vida do usuário de serviços públicos; autoritarismo de porteiros, vigilantes, seguranças e outros funcionários a serviços de empresas ou governo; corporativismo no atendimento no serviço oficial; orgulho e vaidade por parte de chefes, gerentes e outros responsáveis por repartições e departamentos públicos ou privados, são algumas manifestações desta síndrome.A famosa “carteirada”, prática abusiva utilizada por servidores de diversas áreas públicas, são costumeiras, e nos causam grande indignação, principalmente quando são seguidas da expressão: “Sabe com quem está falando”?

Era eu ainda jovem, iniciando minha vida profissional como auxiliar administrativo em uma empresa comercial, quando fui atender um militar no exercício da minha função. Ao tratá-lo por “você”, pois ele também era jovem, ficou irado e ameaçou me prender por desrespeito a uma autoridade, alegando ser um oficial das forças armadas. Recentemente um Juiz de Direito ameaçou prender o porteiro do prédio onde morava por tê-lo chamado de senhor, em lugar de excelência. Não faltam exemplos dessas ocorrências.  Como diz um conhecido provérbio: O poder é sempre perigoso, atrai o pior e corrompe o melhor.

E assim assimila Nicolau Maquiavel (1469 – 1527): “Que a confiança desmedida não o deixe ingênuo, e que a confiança exagerada não te torne intolerável”.