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Coluna

O vilão da história

29 março 2024 - 12h58

Inflação sempre foi um indicador de uma economia com problemas estruturais, muito embora saiba-se que muitos ganham com um processo inflacionário; quem sempre perde são os trabalhadores. Em 1977, o então ministro da Fazenda, economista Mário Henrique Simonsen, utilizou a valorização do preço do chuchu para justificar o aumento dos índices de preços daquele ano, originando a chamada “inflação do chuchu”, mascarando o desencadeamento de um processo inflacionário que se acentuaria nos anos seguintes. O chuchu ficou, então, como o “vilão” da história da inflação. Em 2011, portanto, trinta e quatro anos após, novamente o chuchu voltou a ser taxado como responsável pela elevação do índice de inflação, ao lado da couve-flor, da berinjela e brócolis. Parece piada, mas é real, pois esses produtos fazem parte da “cesta de mercadorias”, utilizada para cálculo da inflação. Como vemos, foi imputado ao chuchu o título de vilão da inflação.

O termo vilão tem origem na palavra latina “villanu”, que era usada para designar aquele que nascia ou habitava em uma vila. Durante a idade média o termo adquiriu um caráter pejorativo e era usado para se referir aos plebeus, então vistos como ignorantes ou desagradáveis. 

Em toda história, o vilão é o antagonista central, um personagem que representa a maldade e a adversidade. Entre os humanos e na fantasia ele é movido por razão egoísta, desejo de poder, vingança ou até mesmo busca por destruição.  No entanto, por mais paradoxal que possa ser, existe o vilão do bem, aquele que conquista admiração e respeito do povo. É o caso de Robin Hood de Nottingham, conhecido como o príncipe dos ladrões, e Tiradentes, mártir da Independência do Brasil. Outro vilão que goza de simpatia dos telespectadores é o “João Plenário”, estereótipo do político corrupto, personagem interpretado pelo comediante Saulo Laranjeira. Aliás, no meio político é onde encontramos mais vilões, segundo a ótica popular.         

Certa vez assisti uma cena que ilustra esse viés. Um homem foi preso por ter sido apanhado roubando um supermercado. Com a chegada da polícia, ele logo recebeu apoio de populares que assistiam à ocorrência, com manifestações do tipo: “coitado”, “solta ele”, e vaiando os policiais. O vilão passou a ser o “coitadinho”.

No meio econômico, a pecha de vilão recai sobre os empresários que aproveitam as oportunidades de mercado para praticarem preços mais elevados, em situações de ausência de oferta. Também chamados de especuladores, e, amparados pela liberdade de comércio, impõem os valores que bem entendem nos seus produtos, notadamente aqueles para os quais não existem substitutos imediatos.

A história universal nos apresenta um número enorme de vilões. Nos tempos bíblicos do Antigo Testamento, temos: Caim, que matou seu irmão Abel; Esaú, que roubou o direito do seu irmão Jacó; Dalila, que seduziu e enganou Sansão; Nero, o tresloucado imperador de Roma; Judas, que traiu Jesus, e Herodes, o Grande. Na história moderna, destacamos: Átila, o Huno; Napoleão Bonaparte; Hitler; Adolf Eichmann; Mussolini; Pinochet, entre outros. Uma característica presente entre os vilões é que eles possuem seguidores, adeptos e fãs.

Mas quem, em algum momento, não incorporou um papel de vilão? Bem escreveu William Shakespeare (1564 – 1616): “A minha consciência tem milhares de vozes/E cada voz traz-me milhares de histórias/E de cada história sou o vilão condenado”.