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Coluna

Mosca azul

21 março 2024 - 11h47

Uma antiga lenda nos remete à origem do termo “Mosca Azul”, que teria vindo de países orientais, onde um servo de um sultão fora picado pelo inseto. A partir daquele momento, começou a se enxergar como o seu superior. Deslumbrado com sua nova imagem, tal como Narciso, passou a ver na mosca seu próprio rosto e a sonhar com poder e riqueza.

A expressão “Mosca Azul” é utilizada para descrever um comportamento psicológico que ocorre quando uma pessoa se sente atraída por poder, posição social ou sucesso. No meio político e empresarial é muito comum vermos exemplos de pessoas com esse tipo de atitude. Frei Betto, frade dominicano, jornalista e escritor brasileiro, transitando na esfera do poder federal como assessor presidencial entre os anos 2003 e 2004, pôde transformar no livro “A Mosca Azul: reflexão sobre o poder”, suas observações a respeito da busca desenfreada pelo poder.

Outro escritor que abordou o tema foi Machado de Assis (1839 – 1908), através do poema “Mosca Azul”, quando ele versa sobre uma “mosca com asas de ouro e granada, refulgindo ao clarão do sol”.  Nele, conta a história de um plebeu que, ao deparar-se com uma curiosa Mosca Azul, com asas de ouro e granada, deslumbra-se e passa a sonhar com poder e riqueza, ilusão que acaba comprometendo sua sanidade e seu senso de realidade.

Leandro Konder (1936 – 2014), filósofo marxista   brasileiro assim escreveu: “A picada da Mosca Azul inocula nas pessoas doses concentradas de ambição e poder. As pessoas, então, são mais receptoras ao veneno da mosca quando vivem situações nas quais dispõem, de fato, de possibilidades mais concretas de exercer um poder maior”.

Certa vez, um colega professor, que trabalhava comigo em uma conhecida Universidade da região, mordido pela Mosca Azul, comentou a respeito de sua intenção de candidatar-se a um cargo eletivo, pois se sentia muito motivado em razão da sua popularidade junto ao corpo docente. Para sua tristeza, fiz uma única ponderação: você tem dinheiro para gastar? Senão, tire isso da cabeça. Felizmente ele me ouviu.

Maquiavel (1469 – 1527), já dizia: “Mas a ambição do homem é tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela”. Na história bíblica a Mosca Azul andou picando alguns personagens, como no episódio relatado no livro de Gênesis sobre Esaú e Jacó, quando o primeiro cobiçou o lugar do segundo na primogenitura de Isaque.

Na atualidade vemos um enxame de moscas azuis contaminando milhares de pessoas, através da perspectiva de chegar ao eldorado de um cargo eletivo. No meio econômico os efeitos dessa picada são devastadores, e podem ser observados quando um empresário se sente atraído por uma ideia fantástica de negócio que promete lucros excepcionais e rápidos. Essa atração pode levar o empresário a investir todos seus recursos, sem considerar riscos e consequências negativas. Num passado recente vimos isso acontecer com os investimentos em bitcoin, quando milhares de pessoas atraídas por lucros extraordinários, irreais para os padrões do mercado econômico, aplicaram seus recursos, redundando em grandes prejuízos.

Os picados pela Mosca Azul entram num estado de delírio, agindo com arrogância no uso do poder, deixando revelar um desvio de conduta da pessoa que não tem poder nenhum, porém, ao imaginar ter, ela age de forma indevida para ocupar um cargo de mando. Há uma expressão popular para definir esse tipo de comportamento: “fura-olho”, isto é, aquele que almeja o lugar de alguém, usando, muitas das vezes, métodos antiéticos ou até mesmo desonestos. 
*Empresário, pro