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Coluna

A epopeia de Gilgamesh

18 abril 2024 - 12h15

Uma lenda, relatada em forma de poema, conta a história de Gilgamesh, rei  sumério, fundador da cidade de Uruk, por volta de 2700 a.C. Ele tinha dois terços de  origem divina e um terço de origem humana, e seu nome significava “o velho que  rejuvenesce”. Na história, narrada pelo poema, ele é apresentado como um rei  despótico, arrogante e que oprimia o povo da cidade. Os deuses, então, criaram Enkidu  do barro e o enviaram ao encontro de Gilgamesh com a missão de torná-lo mais  humilde. Ficaram amigos e empreenderam várias aventuras, culminando que, em uma  delas, desrespeitaram a deusa Inanna. Os deuses, indignados, resolveram matar Enkidu  como punição pela falta cometida. Gilgamesh, entristecido, iniciou outra jornada em  busca da imortalidade. 

O interesse pela imortalidade sempre esteve presente na vida dos humanos através  dos tempos. Na Idade Média (séculos V a XV), vigorava uma lenda segundo a qual  existiria uma fonte que possuía águas capazes de rejuvenescer a pessoa que a bebesse.  Segundo a história, em março de 1513, o espanhol Juan Ponce de León, partindo de  Porto Rico, iniciou a busca pela ilha Bimini, onde estaria a fonte mágica. Esta ilha,  localizada nas Bahamas, é hoje um importante centro de lazer, considerada a capital  mundial da pesca. Especula-se que a viagem de Colombo às Américas tinha também  esse objetivo, assim como, muito antes, Alexandre, o Grande, procurava um rio cujas  águas revertesse o seu envelhecimento.  

O incremento das pesquisas tecnológicas tem buscado meios para estender a  expectativa de vida humana em direção à eternidade. Pitágoras (570 a.C. - 495 a.C.),  filósofo e matemático grego, dizia: “O homem é mortal por seus temores e imortal por  seus desejos”. Os transplantes de órgãos entre seres humanos, os medicamentos  modernos, as terapias ocupacionais, as técnicas invasivas no corpo humano, entre  outros procedimentos, são indícios de que o tempo de vida tem se ampliado, longe  ainda da imortalidade, mas bastante significativo. Em 1966, na Califórnia, Estados Unidos, foi feita a primeira experiência com o  congelamento de um corpo humano, utilizando uma técnica denominada “Criogenia”.  Este processo tem avançado bastante, despertando, inclusive, o interesse comercial de  algumas empresas que estão vendendo espaço em seus laboratórios para pessoas que  se dispõem a pagar cerca de duzentos mil dólares, para terem seus corpos congelados,  à espera da descoberta do tratamento e cura para o mal que as vitimaram. 

Nos Estados  Unidos, duas empresas prestam esse tipo de serviço: Alcor Life Extension Foundation e  Cryonics Institute. outra empresa, KrioRus na Rússia, também oferece. Ainda há muita  descrença a respeito desse procedimento, diversas perguntas estão sem respostas,  como a questão da memória, e na esfera religiosa, o posicionamento da alma e do  espírito.

Mas, alheios a tudo isso, estão muitos homens e mulheres que vivem como se  imortais fossem. Embriagados pelo poder do dinheiro, muitas pessoas detentoras de  elevados cargos na hierarquia política, outras, gozando de sucesso no meio social e artístico, comportam-se como se fossem perpétuas. Ditadores de alguns países têm  adotado posturas próprias de quem acha que nunca vai morrer; alguns políticos, em  nossa terra, agem da mesma forma, com atitudes prepotentes, arrogantes, como se o  amanhã fosse a própria eternidade. 

Entretanto, com a inteligência Artificial a pleno vapor, tudo é possível e deve ser  esperado. Enquanto isso, prefiro ficar com o poeta Vinicius de Moraes (1913 – 1980), que disse em um de seus poemas: “(...) que não seja imortal, posto que é chama, mas  que seja infinito enquanto dure.” .