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Coluna

O mito de Ícaro

22 fevereiro 2024 - 13h42

 A ganância e a alimentação do ego são dois sintomas perigosos que assolam a humanidade. Saber parar, conter-se, comedir-se, são tipos de posturas que denotam sabedoria em uma pessoa, mas, na maioria das vezes, ausentes no ser humano, notadamente quando apresentam evolução social, econômica ou política. Um antigo ditado, atribuído a Maquiavel (1469 – 1527), filósofo italiano, diz: “Dê o poder ao homem, e descobrirá quem realmente ele é”. Assim tem sido em todo o tempo, o homem não sabe ter limites e dimensionar os perigos que a ganância e o ego podem trazer.

Na cultura grega era comum a utilização dos mitos como narrativa para explicar fatos da realidade, fenômenos da natureza, as origens do mundo e dos seres humanos. Os mitos utilizam simbologias, personagens sobrenaturais, deuses e heróis. Um desses, o “Mito de Ícaro”, ilustra as consequências da ganância e da alimentação do ego. A história conta que Ícaro era filho de Dédalo, engenheiro e escultor do rei Minos, que foi o responsável pela criação do famoso labirinto onde vivia o Minotauro. Dédalo e seu filho Ícaro foram presos no labirinto por Minos após Teseu vencer o Minotauro e escapar de lá. Nesse intento, Dédalo teve a ideia de construir dois pares de asas utilizando madeira e penas, sendo essas coladas com cera de abelha. A invenção funcionou e eles conseguiram escapar. Porém, mesmo tendo sido aconselhado por seu pai a não se aproximar muito do sol, Ícaro, fascinado pela beleza e sentindo-se tão poderoso como um deus, voou cada vez mais alto. Ao chegar mais próximo, os raios solares começaram a derreter a cera de abelha desfazendo a armação, fazendo-o despencar do céu, caindo no mar, onde morreu afogado. Não ter ouvido os conselhos de seu pai e ter achado ser mais poderoso do que realmente era o levou à morte, para desespero de Dédalo.

Outro episódio que ilustra as consequências da busca de poder e fama a qualquer custo, está registrada na Bíblia, no livro de Genesis, capítulo 11, versos 4 e 8, que fala sobre a Torre de Babel. Assim diz o texto: “Depois eles disseram: Vamos construir uma cidade com uma torre altíssima, que chegue até aos céus; dessa forma, o nosso nome será honrado por todos e jamais seremos dispersos pela face da Terra!” Depois veio a consequência: “Deus disse: vamos descer e fazer com que a língua deles comece a diferenciar-se, de forma que uns não entendam os outros.” E foi dessa forma que o Senhor os espalhou sobre toda a face da Terra, tendo cessado a construção daquela cidade.

Tem sido regra observarmos a mudança de comportamento das pessoas que alçam posições elevadas na hierarquia social, econômica ou política. Dizem que o poder sobe à cabeça, esse é um antigo ditado que nunca envelhece. O psicólogo e professor Dacher Keltner, mexicano radicado nos Estados Unidos, através de estudos, observou que quando os líderes se sentem poderosos, as suas qualidades e ações genuínas começam a desvanecer-se. Isso leva a comportamentos impulsivos, falta de empatia e até mesmo a transformação do líder em ditador.  

Certa vez, participei de uma reunião política em que o principal convidado era um conhecido deputado. Chegou com quase uma hora de atraso, passou entre os convivas com uma altivez repugnante, sequer os cumprimentou, dirigindo-se diretamente ao anfitrião. Portou-se como um deus. Tempos após foi preso por corrupção, tendo seu mandato cassado.

Empresas, principalmente as monopolistas, humilham os clientes, prevalecendo de serem únicas no mercado. É o caso das concessionárias de água e energia elétrica. Mas esquecem de que a verdade se transveste em justiça, conforme um provérbio que diz: “A arrogância antecede a queda”