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Coluna

Metamorfose

03 setembro 2022 - 10h25

Ao avistar uma lagarta, algumas pessoas sentem repugnância, outras nem tanto, mas ao acontecer a metamorfose, a transformação da lagarta em uma borboleta, a percepção muda, e um sentimento de admiração toma conta, diante de tão bela espécie de inseto, um dos de maior beleza no planeta. Isso nos ensina que para encontrar o novo é preciso mudança, transformação. É inquestionável que o mundo está em processo de transformação.

Novas tecnologias, aparecimento de novas profissões e desaparecimento de outras, mas o que mais precisamos ainda está longe de apresentar mudança: o velho homem. A letra da música “Metamorfose Ambulante”, de Raul Seixas (1945 – 1989), músico e compositor baiano, já alertava sobre essa faceta do ser humano ao dizer: “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. Não adianta utilizarmos tecnologia de ponta quando ainda estamos ligados a velhas práticas, focados em velhas opiniões.

Albert Einstein (1879 - 1955), físico alemão, tem uma frase lapidar: “Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado”. A grande questão que se apresenta no mundo moderno é o estabelecimento de parâmetros para as mudanças. Mudança exige coragem, ousadia, quebra de paradigmas.

Uma fábula bem interessante conta que numa experiência científica, um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula. No meio, uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia na escada para pegar as bananas, os cientistas jogavam um jato de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros o pegavam e batiam muito nele. Contudo um tempo depois, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. Então os cientistas substituíram um dos macacos por um novo. A primeira atitude do novo morador foi subir a escada. Porém foi retirado pelos outros, que o surraram. Um segundo foi trocado e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituído participado com entusiasmo da surra ao novato. Um terceiro foi mudado e o mesmo ocorreu. Um quarto e, afinal, o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas, então, ficaram com o grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse pegar as bananas. Se fosse possível perguntar a alguns deles por que eles batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: “Não sei, mas sempre fizemos assim”.

Certa vez fui contratado como consultor para assessorar uma empresa que estava passando por dificuldade em suas vendas. Após ter traçado um diagnóstico da situação, fiz um relatório onde apontava a origem e causa dos problemas e propus a adoção das medidas a serem tomadas, muitas delas indo contra ao que se fazia. Após apresentar o trabalho, o proprietário me disse que não ia dar certo, pois sempre fizeram da forma como vinham fazendo e que não tinha como introduzir mudanças, pois iria desagradar sua antiga clientela, não acolhendo meu parecer. Menos de um ano depois a empresa fechou as portas.

“O medo de perder tira a vontade de ganhar”, esta frase, atribuída ao técnico de futebol Wanderley Luxemburgo expressa a realidade vivenciada por muitas instituições, de diversas áreas de atividades humanas. Uma expressão popular ensina que “quem não arrisca não petisca”, isto é, quem é ousado, quem não age e não está disposto a correr riscos perde a oportunidade de alcançar o que se deseja. O mundo sempre esteve ao alcance de quem ousou mudar. Pablo Picasso (1881 – 1973), pintor e escultor espanhol, disse certa vez: “Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol”.

Nenhuma mudança é fácil, isso é fato. Entretanto, a pessoa deve ter em mente que tal procedimento é necessário para o crescimento, tanto pessoal quanto da organização. O que tem se constituído em barreira às mudanças é o medo das coisas darem erradas, de não conseguir. Medo de achar o que os companheiros de trabalho vão pensar, de não ser aceito, de receber críticas.

Não é só no ambiente corporativo que necessitamos de mudanças. Estamos em período de campanha eleitoral. Milhares de candidatos a cargos legislativos e executivos procuram conquistar a simpatia e votos dos eleitores em todo o Brasil. Mas o que se observa são as velhas fórmulas de aliciamento por meio de benesses, com centenas de milhões de reais investidos com esse objetivo. Discursos ultrapassados, cheios de promessas que não serão cumpridas, e o povo, como sempre, deixando-se iludir. Urge que se façam mudanças no sistema, mas como, se quem deveria propor são os mais beneficiados com o modelo atual?

Na administração pública vemos grande avanço no quesito tecnologia, mas no aspecto humano pouco avançou, salvo algumas exceções. Enquanto o cliente/contribuinte for tratado com suspeição, não poderá haver mudança. Fazendo uma analogia com o preceito constitucional que diz “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” (Princípio da Presunção de Inocência- Art. 5º inciso LVII da C.F.), há uma inversão de tratamento, pois o que prevalece é que “todos são culpados até que se prove o contrário”.

Certo estava o Barão de Itararé quando disse: “Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar”.

(*) Clésio Guimarães é empresário, professor, administrador de empresas e representante do CRA-Conselho Regional de Administração.