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Coluna

Escassez

28 maio 2021 - 19h58

Consultando os dicionários, aprendemos que “escassez” é a falta, carência ou ausência de alguma coisa. Em termos econômicos, a escassez emerge do pressuposto de que as necessidades humanas são infinitas, ao passo que os bens ou meios de satisfazê-las são finitos.  Todos os dias, a economia de um país, de uma cidade ou mesmo de nossa casa, tem que enfrentar o fantasma da escassez, esta coisa incômoda que não nos deixa ter tudo o que queremos ou sonhamos.
A escassez assombra a economia porque os desejos das pessoas são ilimitados, enquanto os recursos para produzir – ou adquirir - os bens e serviços são limitados. Sempre fica faltando alguma coisa para alguém, sendo que nos países pobres a escassez de recursos (dinheiro, pessoas capacitadas para trabalhar, infraestrutura etc.) é mais séria e acentuada.
De acordo com teorias econômicas neoclássicas, o homem pode produzir o suficiente de qualquer bem econômico para satisfazer completamente determinadas necessidades, mas jamais poderá produzir o suficiente de todos os bens para atender simultaneamente todas as necessidades. Assim, consoante esse conceito, as ciências econômicas serviriam exatamente para orientar e gerir a escassez.

Mas, por mais paradoxal que possa nos parecer, a escassez é que mantém o sistema econômico em funcionamento, dentro do princípio da oferta e procura. Em muitas situações foram necessárias medidas para provocar o que chamamos de “escassez artificial”. A mídia vez por outra divulga ações de produtores que jogam milhares de litros de leite fora, outros que destroem toneladas de grãos, hortaliças, cebolas, tomates, etc., com a finalidade de diminuir a oferta, provocando escassez com o objetivo de elevar preços no mercado. Um dos casos mais clássicos na história econômica brasileira foi o ocorrido no dia 13 de junho de 1931, quando o governo de Getúlio Vargas ordenou a queima de milhões de sacas de café que estavam estocadas no porto de Santos, no litoral paulista. Conta-se que por quilômetros podia ser vista a coluna de fumaça levantada pela montanha de café queimando. Naquela época o café era o principal produto na pauta de exortação e a desvalorização do preço, pelo excesso de oferta, estava afetando a balança comercial brasileira. No caso dos produtos manufaturados, a escassez é provocada pela suspensão temporária da linha de produção com o objetivo de diminuir a oferta. 

Os governos utilizam o princípio da escassez como uma das ferramentas para combater alta da inflação, através da limitação do crédito e da emissão monetária. O excesso de emissão de moeda, leia-se muito dinheiro em circulação, é um forte fator para elevação dos índices de inflação de um país. É claro que esta medida tem que ser dosada para evitar um colapso na economia.

 Os economistas Stoiner (Alfred W.) e Hague (Douglas C.), autores de livros sobre Teoria Econômica, escreveram que “se não houvesse escassez nem necessidade de repartir os bens entre os homens, não existiriam sistemas econômicos nem economia”. A economia é fundamentalmente o estudo da escassez e dos problemas dela decorrentes. Assim, a escassez gera problemas econômicos em toda parte, sendo em muitas circunstâncias um mal necessário. A forma de enfrenta-los, porém varia, dependendo da organização da atividade econômica adotada. Assim, qualquer que seja a organização, três problemas precisam ser resolvidos: O que, quanto e quando produzir? Como produzir? Para quem produzir?

Transcendendo os aspectos econômicos, é também a escassez que nos permite identificar os diversos mitos sociais, culturais, esportivos e até políticos de uma sociedade. Imagine se todos os homens tivessem o mesmo talento literário de Machado de Assis ou Paulo Coelho? Se todos os jogadores de futebol tivessem a mesma habilidade de um Zico ou Pelé? E se todos os políticos tivessem o mesmo carisma de Getúlio Vargas ou Churchill? 

É exatamente pela escassez de determinados valores ou talentos que podemos fazer a distinção daqueles que se destacam e ficam visíveis recebendo as honras ou prêmios que a sociedade os contempla.