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Coluna

A morte do dinheiro

08 junho 2023 - 06h00

Um vídeo que circula na internet mostra uma jovem senhora em uma loja tentando pagar a compra de alguns produtos no caixa com três cédulas de cem reais. O caixa olha curioso para o papel, tenta passar em uma máquina de cartão e não acontece nada. Chama uma colega e mostra as cédulas e pergunta se ela conhece aquilo. A resposta é “não!” Então convoca o gerente e diz que a cliente não quer pagar a conta; uma confusão está formada. Ninguém reconhecia o dinheiro. Absurdo? Hoje, sim, mas daqui a alguns anos será uma realidade. Ninguém mais vai utilizar dinheiro no seu dia a dia. Um livro de 1994, de autoria do economista e escritor norte-americano Joel Kurtzman (1947 – 2016), com o título “A Morte do Dinheiro”, escrito numa época em que a informática ainda engatinhava, já profetizava o fim do dinheiro. Claro que estou falando do dinheiro físico, não da moeda que é um padrão nacional.

Se com o uso dos cartões de débito e crédito a utilização e circulação do dinheiro físico já apresentavam uma substancial redução, agora com o PIX, o seu desaparecimento é mais evidente. Do pipoqueiro, passando pelos vendedores ambulantes e pedintes de rua, até as grandes transações entre empresas, esta forma de efetuar e receber pagamentos está consagrada. 

Consultando o site do Banco Central, verificamos que no dia 1º de junho de 2023, existiam 7.392.833.061 de cédulas e 29.855.919.048 de moedas em circulação, além de 1.020.711 moedas comemorativas. O custo para fabricação desse dinheiro é alto para a Nação. Uma moeda de R$ 0,05 tem um custo de R$ 0,11; uma moeda de R$ 0,50 custa R$ 0,20 para ser fabricada; uma cédula de R$ 2,00 custa R$ 0,17; uma cédula de R$ 100,00 custa R$ 0,25. Basta multiplicar a quantidade de cédulas e moedas emitidas para avaliarmos o dispêndio com elas. Entretanto, temos que concordar que o desaparecimento do dinheiro, mesmo que não seja de forma absoluta, é algo altamente benéfico para as pessoas. Quer pelo custo de produção, que onera o orçamento nacional, quer pelo risco de transmissão de doenças na manipulação do papel e propensão a perdas e roubos. Por outro lado, o governo, com a disseminação do uso do PIX, passa a ter um instrumento poderoso para controlar a movimentação financeira dos cidadãos.

Hoje, é muito comum irmos a um mercado e o caixa não ter troco, ou arredondar para cima, ou, o que é pior, não podermos levar a mercadoria por não conseguirem o troco. A utilização do pagamento direto via PIX acaba com esse problema. Interessante que esta mudança de comportamento em relação à manipulação de dinheiro está influenciando até o “modus operandi” dos delinquentes. Agora não pedem mais a “bolsa”, mas o PIX ao fazerem seus assaltos.

Recentemente, para validar minha tese da eminente morte do dinheiro, fiz uma viagem de três dias à cidade de Salvador (BA), portando apenas um cartão de crédito e um aplicativo de Banco no celular, não levei qualquer dinheiro. Foi um risco, sem dúvida, mas precisava ter certeza. O resultado foi que o dinheiro físico não fez falta. Utilizando o cartão de crédito/débito, mais o PIX, paguei táxi, refeições, lanches e outras compras, sem qualquer problema. Evidente que há uma dependência da tecnologia da internet.

Com a desmoralização do uso do cheque, que, mesmo sendo uma ordem de pagamento “à vista”, perdeu-se toda sua credibilidade, a ponto de ter praticamente desaparecido, os novos meios de pagamento oferecem mais segurança nas transações, apesar de já existirem golpes do “falso PIX”.

Dinheiro em si não faz falta, mas falta dele, sim!