Enquanto o castelo de cartas do PMDB desmorona ao sabor dos escândalos de escândalos que já resultaram na prisão do ex-deputado federal Eduardo Cunha, do ex-governador Sérgio Cabral e na recente condução coercitiva do presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani, caciques da legenda na Região dos Lagos reconhecem o momento crítico, mas argumentam que a crise política não se restringe ao partido.
O prefeito de Cabo Frio, Marquinho Mendes, presidente do PMDB no município, afirma que momentos de turbulência não são novidade e que a sigla tem fôlego para passar por este momento.
– O PMDB é um partido histórico e um dos maiores do Brasil, que já passou por momentos de turbulência, como é o momento atual, e sempre soube superá-los. Não vai ser diferente agora. Estamos falando de um partido que ajudou a construir a democracia brasileira. Problemas internos e períodos de dificuldade existem em todas as siglas, mas poucos partidos têm a força que o PMDB tem para passar por isso e ficar ainda mais forte.
Já o prefeito de São Pedro, Cláudio Chumbinho, diz que o momento é crítico para todo o país.
– O momento é crítico não apenas para o Estado e o partido, mas para todo o Brasil. Nosso país vive uma crise política, em que infelizmente cada vez menos a população acredita em seus governantes, por tudo o que é noticiado diariamente. São Pedro da Aldeia seguirá fazendo seu dever de casa, com transparência no poder público e muito trabalho para desenvolver nossa cidade, para que seja o mínimo possível afetada pela crise financeira. Esperamos que dias melhores cheguem para todos nós.
Crise – Se já não era boa, a situação do PMDB piorou ainda mais na semana passada, quando o presidente da Alerj, Jorge Picciani, foi levado coercitivamente para prestar depoimento na Polícia Federal, por suposto envolvimento em esquema de pagamento de propina para conselheiros do Tribunal de Contas de Estado (TCE-RJ). Picciani passou a ser considerado o maior cacique peemedebista do Estado após a prisão, em novembro, do ex-governador Sérgio Cabral, acusado de chefiar uma quadrilha que desviou mais de R$ 224 milhões dos cofres públicos.
Além disso, alvejado por pedidos de impeachment na Alerj e citado na Operação Lava Jato, o governador Luiz Fernando Pezão sofreu dura derrota na semana passada, quando teve negado o recurso que tentou impedir a cassação da chapa Pezão/Dornelles na eleição de 2014. O governador é acusado de abuso de poder econômico e político, pois o então candidato à reeleição teria concedido isenções fiscais em troca de doações de campanha.
Como desgraça pouca é bobagem, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha acaba de ser condenado a 15 anos de prisão, acusado de corrupção na Petrobras e remessa ilegal de dinheiro para o exterior. Aposta para o futuro próximo, o ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, também recebeu respingos da Lava Jato.
Com tantos problemas a driblar, fica a pergunta: o partido vai sofrer consequências desta imagem arranhada nas próximas eleições?
Para o cientista político e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) de Campos, Márcio Malta, os acontecimentos não são coincidência e refletem um modelo que escancaram a relação promíscua entre políticos e grandes empresários, sobretudo com relação às doações de campanha. Contudo, ele acredita ser prematuro falar sobre os efeitos dos acontecimentos recentes para o futuro da legenda.
– É cedo para dizer. O partido tem muitas ramificações, muitos prefeitos e uma bancada numerosa. A sigla é muito forte e sua queda não são favas contadas. Houve uma desmoralização junto à opinião pública após a crise de 2013, mas o partido conseguiu se reerguer. Não consigo enxergar muitas mudanças. Esse efeito fica muito na esfera moral, mas não deve se converter no momento do voto – avalia o especialista.
A opinião do cientista político é a mesma do historiador Paulo Roberto Araújo, colunista da Folha. Para ele, o pior passou, já que considera a prisão de Sérgio Cabral como o auge da crise do partido:
– Sérgio Cabral era o único que poderia aparecer como um possível candidato para as eleições de 2018 e 2022 e com chances de ser eleito, coisa que o PMDB não tem.
Paulo Roberto acredita que, mesmo com toda a crise, o partido não perderá votos.
– O PMDB, por conta desta crise, não diminuirá de tamanho, como foi o caso do PT. Isso porque o partido tem uma máquina eleitoral espalhada por todo o país, então, o que eles perdem em um estado podem compensar com a ascensão de outras lideranças regionais – opina o historiador.