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LUGARES DE AFETO

Boliche da Francisco Mendes: onde a juventude de Cabo Frio se encontrava

Antigos frequentadores falam com carinho do lugar que era o point dos adolescentes na primeira metade da década de 1970

13 novembro 2021 - 15h16Por Rodrigo Branco

Quem passa hoje em dia pela Rua Francisco Mendes, no Centro de Cabo Frio, não imagina o fervo que eram aqueles metros quadrados a poucas quadras da Praia do Forte na primeira metade da década de 1970. Tudo por causa de um lugar que reunia a juventude praiana naqueles tempos, que foram tão marcantes para quem os viveu, que muita gente ainda se refere àquele pedaço da cidade como ‘Rua do Boliche’. 

A frequência do antigo boliche era basicamente de adolescentes e adultos jovens e, como hoje e sempre, de visitantes de Belo Horizonte e de Juiz de Fora que passavam férias em Cabo Frio, fazendo do conjunto de prédios residenciais da Francisco Mendes uma autêntica ‘República dos Mineiros’ perto do mar. 

Nem todo mundo tinha condições de pagar por umas das pistas do estabelecimento e se arriscar a derrubar os pinos, mas isso era longe de ser motivo para alguém não se enturmar. A rapaziada marcava encontros, conversava e paquerava no local, que tinha as paredes decoradas com charges do celebrado artista plástico local Cândido, cujos traços lembravam os de um mineiro ilustre chamado Ziraldo.

O fotógrafo e memorialista Evangelos Pagalidis recorda com saudade daquela época em que não havia maiores compromissos. 

– O antigo boliche, que agora é um edifício comercial, era onde circulava toda nossa juventude. Tinham os encontros, a pizzaria, os namoros. A gente combinava com os amigos e ia pra lá. E dali depois a gente saia pra ponta do [local onde seria construído mais tarde o hotel] Malibu. O  boliche ficou muito na nossa memória afetiva – rememora.

Os painéis do talentoso Cândido eram particularmente inspiradores para o ilustrador e designer gráfico Sacha Santana, um carioca que frequenta Cabo Frio desde 1958, por força do trabalho do pai, no Porto de Arraial, quando o Cabo ainda era um distrito. ‘Sachinha’, como é conhecido dos amigos, fala com nostalgia da virada dos anos 1960 para 1970, quando no auge dos 14 anos andava com a galera do surfe, com quem frequentava o boliche. 

Ele recorda divertido quando o forte vento nordeste que soprava vindo do Forte levou para cima do telhado do boliche a camisa que jogara, de gaiatice, para o alto. Nunca mais viu a peça de roupa, a qual tinha carinho por ser uma das camisetas que havia pintado a estampa com esmero e habilidade, imitando o símbolo de marcas gringas da época, como a Hang Ten.

Sachinha lembra quando a galera ocupava os dois lados da rua, em frente ao boliche pra ver o movimento e, sobretudo, de um amigo de apelido Zuca, já falecido, considerado o mais bagunceiro da turma.

– Os carros passavam em frente ao boliche, e o Zuca inventou uma brincadeira. Arrumou um balde velho e o encheu de paralelepípedos. O trânsito era todo por ali. Ele esperava o trânsito aliviar e colocava o balde cheio de paralelepípedo em plena rua. E na rua do boliche na época, tinha carro estacionado de um lado e do outro, ficava só um corredorzinho no meio. Então com aquele balde ali o trânsito engarrafava. As pessoas ficavam buzinando, esperando alguém tirar para passar. Até que um dia surgiu um carro, que o cara simplesmente saltou, pegou o balde, pois já devia conhecer a brincadeira idiota, e o jogou dentro do carro dele e sumiu. Nunca mais apareceu o carro, nem o balde – relata, com saudades do amigo ‘travesso’.

Outra novidade do boliche eram as máquinas eletrônicas de fliperama, alvo da atenção de Paulo Henrique Monteiro, contemporâneo de Evangelos e Sachinha. PH relembra que havia um circuito de restaurantes nas quadras próximas, mas que o grande movimento era mesmo na Francisco Mendes, que tinha mão invertida em relação à de hoje. À época, os carros transitavam da Assunção no sentido praia.

– Eu entrava naquele fliperama com uma moedinha e ganhava dez, vendia e ia embora pra casa [risos]. Isso fez parte da nossa infância aqui, nem é adolescência porque não estávamos aqui na cidade, mas faz parte da nossa vida. Ficávamos vendo as figuras da cidade que frequentavam. Nessa época não tinha a maldade das pessoas que tem hoje – avalia. 

Locais de afeto – A matéria sobre o antigo Boliche de Cabo Frio faz parte de uma série chamada ‘Locais de Afeto’, no qual as histórias de lugares queridos e que deixaram saudade são contadas por pessoas que vivenciaram a época.

Entre as reportagens já publicadas já foram abordados lugares queridos do público como o antigo Cine Recreio, onde os lançamentos do cinema eram exibidos entre as décadas de 1980 e 2000; o bar Argonautas, que reunia a nata da MPB nos anos 1990, no bairro São Bento e também a Boate Night Club, no bairro São Cristóvão, onde a juventude também se encontrava nos anos 1990. Todas essas matérias podem ser encontradas no site da Folha.

Confira abaixo a edição especial de 406 anos de Cabo Frio produzida pela Folha. O jornal está nas bancas. Prestigie seu jornaleiro! Banca é lugar de cultura!