Nelson Rodrigues jurava: o Sobrenatural de Almeida protegia o Fluminense na hora dos gols mais improváveis. Reza a lenda que os torcedores vascaínos rezam nesse domingo para o fantasma reaparecer. Afinal de contas, por ironia do destino, não basta ao Vasco da Gama caminhar com as próprias pernas: uma derrota do Tricolor para o Figueirense no Estádio Orlando Scarpelli, em Santa Catarina, significa o terceiro rebaixamento do cruzmaltino em oito anos. Se o Sobrenatural de Almeida vai dar as caras, ninguém sabe, só se sabe que a rivalidade falará mais alto do que a paixão na tarde deste domingo.
Orgulhosos, há vascaínos que não admitem a torcida pelo Fluminense. É o caso do funcionário público Pedro Abreu.
– Se fosse necessária a vitória do fluminense para o Vasco permanecer na Série A, torceria pelo Fluminense. Na história, o Vasco ajudou o Fluminense por diversas vezes. Caso aconteça o contrário, será um caso isolado – argumenta.
O funcionário público Rodrigo Santos, 22, admite que a permanência vascaína na primeira divisão está acima de tudo.
– Independente da rivalidade dos torcedores que querem ver o rival cair, a manutenção do Vasco na Série A é muito importante para o futebol carioca. Não tenho tantos problemas com o Fluminense, até porque o meu pai é tricolor. Mas gostaria de mandar um recado para os tricolores depois do jogo: muito obrigado e paguem a Série B – alfineta, bem humorado.
Naquele que foi o pior começo de campeonato de uma história centenária, o Vasco fechou o primeiro turno na lanterna, com lamentáveis 13 pontos em 19 partidas. Mas não há como negar a reação – o time fez o dobro de pontos a uma rodada do fim do campeonato. O ‘esforço’ foi reconhecido pelo estudante Eric Lopes, 22.
– Independente do resultado do Fluminense, o Vasco lutou como um time de verdade para escapar no final. Mas, caso aconteça, não foi por causa dos últimos resultados. Foi pelo primeiro turno, quando o time praticamente assinou a sentença de morte. Tem que deixar o clubismo de lado nessas horas. Todo vascaíno vai estar de olho no jogo do Fluminense, mas todo vascaíno viu o time lutar como um time de verdade – diz.
Pelo lado direito da arquibancada, onde está a torcida do Fluminense, o sentimento não é de solidariedade. O estudante Ralph Guimarães, 22, não esqueceu das provocações de Eurico Miranda durante todo ano.
– Por mim entrega com requintes de crueldade. O Eurico falou muita besteira do Fluminense durante todo o ano. Meu recado para os vascaínos é: curtam bastante a Segundona. E, para o Rodrigo, fica o que o Fred falou: você deveria ter aproveitado melhor o fim da carreira – disse ele, numa alusão ao zagueiro vascaíno, que trocou farpas com o atacante no clássico do primeiro turno, vencido pelo Vasco por 2 a 1.
Quem não sente nenhuma dó do rival é o jornalista Aníbal Soares, 42, que promete torcer contra o time do coração.
– Já separei a camisa do Figueirense. Pela arrogância do presidente cruzmaltino em relação ao Fluminense. Peço que não julguem o Fluminense como culpado por um possível rebaixamento. Devem julgar a campanha pífia que feita no torneio, em que figuram na zona desde a quarta rodada – dispara.
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