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Coluna

Sobre Lobos, Raposas e Cordeiros

Há quase um ano atrás muita gente, inclusive grandes conglomerados de mídia, faziam o mea culpa constrangido por seu papel descaradamente favorável ao regime militarista que tomou de um só golpe nossa democracia e liberdade. 

09 março 2015 - 13h43

Há quase um ano atrás muita gente, inclusive grandes conglomerados de mídia, faziam o mea culpa constrangido por seu papel descaradamente favorável ao regime militarista que tomou de um só golpe nossa democracia e liberdade. Agora, com a nova vitória da presidenta Dilma Roussef voltam esses mesmos setores a reverberar a incitação ao golpismo. Na verdade eles jogam uma partida muito perigosa, cujas regras ainda não são bem claras e muito menos as consequências do que poderá acontecer.

O fato é que novamente no mês de março, o mês do golpe que instaurou a ditadura militar, voltam certas vozes pedindo a presença do povo nas ruas. Mobilização semelhante fora tentada em 2014 e a adesão ridícula ensinou que esses grupelhos precisavam modificar o seu argumento. Na época, a ridícula acusação de que estaríamos nos transformando num regime comunista e que por isso seria necessária a intervenção militar, se mostrou uma anomalia fora do tempo e do espaço. E convenhamos que um país onde os bancos privados como o Itaú e o Bradesco batem recordes bilionários a cada trimestre e com uma taxa de juros astronômica podemos ser tudo, menos um país que ruma ao socialismo. E poderíamos ficar ainda muitas páginas desconstruindo essa sandice, mas cansaria sobremaneira o leitor suficientemente informado.

Mas, voltando ao assunto, são os defensores do regime autoritário, os favoráveis a um novo golpe militar, os verdadeiros artífices da convocação do povo às ruas e das manifestações de hostilidade aberta à presidenta. E o argumento melhorou sobremaneira, utilizando-se a Petrobrás como ícone de um suposto estado generalizado de corrupção que, segundo eles, deveria derrubar a mandatária recém-eleita. O PSDB entrou nessa, mas de freio de mão puxado. Sabe que o vento que hoje venta no PT e seus aliados já lança uma boa lufada na sua direção. Nada, absolutamente nada garante ao partido e ao seu presidenciável a confortável poltrona presidencial e isso por que o argumento da corrupção ambidestra vem ganhando corpo e, aos poucos, mostrando a verdadeira cara do movimento: impeachment a qualquer preço e, preferivelmente, a margem da legalidade, por meio de uma intervenção. Os tucanos sabem bem o risco de dividir o poder com esse tipo de gente. É surfar numa onda que fatalmente engole o incauto.

Essa mesma gente que vai para a rua em março defender o golpe travestido de protesto contra a corrupção, não será vista novamente nas ruas num suposto retorno a um regime autoritário e suas práticas igualmente corruptas. Quem investiga ou protesta contra desmandos e malfeitos num estado de exceção é perseguido, morto, desaparece. A coragem dessa gente é estar ao lado de quem tem um fuzil por garantia. E tudo para eles ficará bem, desde que se beneficiem em detrimento do bem estar e da liberdade de milhões de brasileiros. É um anacronismo perigoso demais para ser ignorado.

Queira o bom senso que a notícia ridícula das manifestações mal educadas e isoladas quando do pronunciamento da presidenta no último domingo, mostrem novamente a mesma pífia adesão nas ruas dos bairros de elite, onde o tal movimento está sendo convocado. É curioso que não vimos noticiadas as vaias nas favelas e nas casas de classe média baixa. Nem tampouco passeatas que partam das comunidades. Claro que devemos lutar contra a corrupção. Eu não concordo com ela em absoluto e defendo que todos os atos criminosos sejam investigados, julgados e punidos, independentemente de quem está ou esteve no poder, mas dentro de uma perspectiva de fortalecimento das instituições democráticas. Só não podemos aceitar o papel de marionetes de reacionários oportunistas, que escondem suas verdadeiras intenções com as máscaras de temas e fatos ainda no calor do momento. São covardes agora e serão ainda mais se o que pretendem se realizar.

E depois não me venham as grandes mídias pedir desculpas novamente.