segunda, 29 de abril de 2024
segunda, 29 de abril de 2024
Cabo Frio
23°C
Park Lagos Super banner
Park Lagos beer fest
Coluna

Duas inteligências

29 março 2024 - 13h00

O que tem saltado aos olhos atualmente quando falamos a respeito das inteligências artificiais, especialmente os chatbots como o GPT, é a capacidade delas de lidar com um número impressionante de informações, busca-las, sintetizá-las e apresenta-las ordenadamente conforme os comandos estruturados no diálogo com a máquina. Esse maravilhamento nos leva a conceber, na esfera do senso comum, de que as máquinas são mais inteligentes do que nós, humanos, ou que o serão em muito breve. 

É claro que toda capacidade e novas funcionalidades dessas inteligências são encantadoras sob o ponto de vista da sua finalidade e funcionalidade. Porém, em se tratando de educação, se faz necessário trazer luzes a alguns pontos dessa percepção do senso comum, de modo a favorecer a incorporação dessas novidades, mas sem perder de vista o que elas podem realmente contribuir e o que é uma espécie de fetichismo contemporâneo.

Comparar a inteligência humana à inteligência das máquinas é uma proposta falsa. Não são equivalentes e muito menos comparáveis. O modo como o cérebro constrói e experiencia o conhecimento é extremamente mais complexo do que a aprendizagem de máquina mais avançada. Isso significa que estamos falando de inteligências diferentes, baseadas em estruturas diferentes e separadas pela natureza do como os dados são acessados e processados. Ou seja, estamos falando da inteligência biológica e seus processos singulares e as redes neurais construídas por meio de operações matemáticas e algoritmos complexos. Isso sem falar nas inteligências artificiais que ainda se baseiam no processamento binário.

Isso nos leva a duas considerações muito importantes. A primeira é que é um equívoco achar que as máquinas substituirão totalmente os humanos e, em especial, a forma de pensamento humana. Por mais avançadas, criativas e inéditas que sejam as capacidades de criação, elas não terão como apreender a singularidade das nossas formas de compreensão, o que leva em conta também aspectos como a subjetividade, as emoções e afetos, as intencionalidades dirigidas por balizadores éticos e morais, a alteridade e relatividade em nossas formas de compreensão e ação. 

No entanto, o que elas podem fazer mudar a nossa forma de relacionamento com o conhecimento e o trabalho. Ou seja, é inescapável aprender a aprender com elas, a trabalhar com elas e lidar com todos os impactos que capacidade de criação delas terá em nossas relações sociais, políticas, econômicas e culturais e incorporar os novos softwares e plataformas inteligentes como poderosos auxiliares no processo de ensino/aprendizagem.

Além desses aspectos, é importante incorporarmos mais um: a transformação da própria didática e da pedagogia. Um exemplo dessa transformação, é o da possibilidade de incorporarmos certos mecanismos da aprendizagem de máquina como estratégia de desenvolvimento dos nossos alunos. Isso pode ser feito por meio de uma “aprendizagem algorítmica”, invertendo o atual conteudismo. Tema para uma outra conversa.