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Polícia

Polícia Civil investiga agressão a professora de Cabo Frio

Envolvidas dão suas versões sobre o caso, que está sob a responsabilidade da DEAM

27 setembro 2018 - 10h58
Polícia Civil investiga agressão a professora de Cabo Frio

ALEXANDRE FILHO | RODRIGO BRANCO

A Polícia Civil, através da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (DEAM), investiga o caso de agressão a uma professora da rede municipal de Cabo Frio, ocorrido na tarde da terça-feira nas dependências da E.M. Talita Hernandes Pereló, no Jardim Esperança. De acordo com a delegada Márcia Beck, até agora apenas a vítima e algumas testemunhas foram ouvidas, mas a suposta autora da agressão já foi intimada para depor em sede policial.

O caso aconteceu por volta das 12h, quando acontecia a troca de turnos. Após o ocorrido, a professora foi encaminhada para a UPA e, em seguida, para a DEAM, onde registrou a ocorrência no mesmo dia. Com as investigações já em andamento, a delegada afirma que restam poucos passos para que o resultado do inquérito seja encaminhada para o Ministério Público.

– Agora vamos requisitar o boletim de atendimento médico da vítima, e após a oitiva da autora, não surgindo novos elementos, a investigação estará pronta para encaminhamento ao Ministério Público, que é quem oferece a denúncia. Acredito que conseguiremos concluir rapidamente o caso – disse.

Segundo Márcia, caso a agressão se confirme com o laudo expedido pelo exame do Instituto Médico Legal, que foi realizado na manhã de ontem, a autora irá responder por lesão corporal e desacato, por conta da professora ser uma servidora pública do município.

À Folha, a professora agredida, Danielle Norões, de 41 anos, contou ontem que, na sexta-feira, um incidente envolvendo o sumiço de um caderno foi o estopim de tantos outros casos de indisciplina relacionados à filha da agressora, Cíntia Rei, autônoma, de 32 anos. Depois de realizarem buscas, o caderno foi encontrado próximo ao banheiro, local onde, segundo Danielle, as crianças tinham visto a aluna se dirigir após mexer nas bolsas.

– As crianças da própria turma viram que ela havia tirado o caderno, e em momento algum a aluna confessou isso. Ela continuava afirmando que não havia feito nada – explicou a professora, que contou que a aluna em questão ainda ameaçou agredir a estudante dona do caderno.

De outro lado, Cíntia Rei confirmou o incidente, mas afirmou que sua filha não teve culpa, e acusou Danielle de ter humilhado a menina na escola.

– Ela aumentou muito as coisas, não foi assim não. Ela acusou minha filha de ter roubado um caderno semana passada, mas não foi minha filha. Antes do caderno aparecer, ela humilhou minha filha, chamando ela de cínica, sonsa, apontou o dedo na cara dela e falou que minha filha não poderia se misturar com gente da laia dela – declarou.

Após o ocorrido, na terça-feira Cíntia foi chamada na direção para conversar sobre a questão. Segundo Danielle, após ter conversado com a diretora, Cíntia já estaria alterada e saiu do recinto, no momento em que Danielle entrou. Ao voltar, Cíntia teria ouvido as duas conversando e iniciado uma discussão que culminou na agressão.

– Ela só ouviu a palavra “desequilibrada” e começou a discutir e gritar, reclamando que a filha dela teria sido humilhada, e não foi nada disso. (...) Ela me chamou de irresponsável e veio na minha direção. Quando o inspetor de alunos tentou afastá-la, nesse momento ela avançou em mim, puxando meu cabelo, arranhou meu rosto, e me deixou com um hematoma na costela também, pois nós tivemos uma luta corporal mesmo – explicou.

Cíntia explica que teria pedido para a professora pedir desculpas para sua filha por suas atitudes com ela. Com a negativa da professora, ela se irritou e apontou o dedo para a professora, como alega que a mesma tenha feito com sua filha.

– Ela mandou eu me tratar e deu um tapa na minha mão. Foi então que começou a briga – disse.

Danielle afirma que a aluna de 13 anos tem recorrentes problemas de comportamento, sendo reincidente na direção, inclusive com casos de suspensões. A mãe confirma a questão, mas afirma que “seria por isso que ela precisava de ajuda, e não de humilhação”. A menina está grávida de dois meses, segundo Cíntia, que diz que isso tem sido um agravante no dia a dia da menina na escola.

– Falei que ela não iria para a escola, e a direção insistiu para que ela fosse. Eu falei que era melhor não ir. Ela já passou por humilhação na escola, com os alunos caçoando dela por conta disso – afirma.

Se sentindo vulnerável e com alguns dias de folga para pensar sobre sua situação, Danielle afirmou que não vai deixar a escola e que, se tudo permanecer em paz, na próxima semana deve voltar a lecionar na unidade.

Já Cíntia terá que depor, mas afirma que ainda não recebeu a intimação para comparecer à delegacia. Ela revela que está com medo de ser presa.

– Eu não recebi a intimação, e estou com medo de ser presa. Vou ter que criar coragem e ir, mas também quero que ela (Danielle) pague pelos erros dela. Fui ofendida como mãe e como pessoa – declarou.

SEME e Câmara se pronunciam sobre o caso

Segundo a secretaria de Educação de Cabo Frio psicólogos e o setor jurídico vêm apoiando a professora nos diversos trâmites necessários, como no atendimento na UPA e no registro da ocorrência na delegacia. De acordo com a secretaria, o setor jurídico também estará à disposição da servidora caso ela necessite em um futuro processo.

Responsável pela pasta, o secretário Cláudio Leitão afirmou que, em uma investigação preliminar feita pela secretaria, foi verificado que a conduta da professora foi adequada. Ainda segundo ele, para tentar evitar que casos similares ocorram no futuro, a secretaria vai investir na capacitação dos servidores.

– O que a gente pode e vai começar a planejar é estruturar um processo de cursos que para capacitar melhor o corpo docente e não docente a lidar com essas situações que podem levar ao conflito – explicou.

Ainda de acordo com a secretaria, a Coordenadoria de Orientação Educacional está fazendo um acompanhamento psicológico com a aluna envolvida no incidente, e que o histórico da mesma está sendo analisado com a finalidade de amparar a menor psicologicamente.

A Câmara Municipal também se pronunciou em uma nota, em que a Comissão de Educação repudiou a agressão sofrida pela professora. O vereador Rafael Peçanha informou que já entrou com um ofício para que a Comissão de Direitos Humanos, presidida por ele, acompanhe o caso de perto.

– A ideia é colocar a Comissão de Direitos Humanos como parte do procedimento para acompanhar a investigação para reparar esse problema, e fazer justiça, tentando impedir que novos casos aconteçam – disse Peçanha.