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Naufrágio histórico do Changri-lá, em Cabo Frio, terá nova audiência nesta segunda (6)

Descoberta do historiador cabo-friense Elísio Gomes Filho pode ajudar famílias dos pescadores mortos a serem indenizadas pelo governo alemão

06 maio 2024 - 11h37Por Cristiane Zotich
Naufrágio histórico do Changri-lá, em Cabo Frio, terá nova audiência nesta segunda (6)

Nesta segunda-feira (6) a história do desaparecimento do barco pesqueiro Changri-lá vai ganhar mais um novo capítulo. O historiador cabo-friense Elísio Gomes Filho foi convidado a participar de uma audiência no Fórum do Rio de Janeiro, marcada para às 14h. Ele será a principal testemunha no processo que pede ao governo alemão indenização por reparação pelos crimes de guerra cometidos contra os 10 pescadores que morreram na ocasião. O caso aconteceu em 22 de julho de 1943 quando, durante a Segunda Guerra Mundial, o submarino alemão U-199 bombardeou e afundou a embarcação no mar de Cabo Frio (onde hoje é Arraial do Cabo), matando todos os tripulantes.

Em 1945, dois anos após o sumiço do barco, o Tribunal Marítimo decidiu arquivar o caso por acreditar que o barco pesqueiro havia naufragado por erro humano, de equipamento ou por condições meteorológicas. Mas foi Elísio que, no final da década de 1990, ainda como estudante de história, descobriu através de pesquisa de documentos que, na verdade, o Changri-lá havia sido afundado ao ser atingido por tiros de canhão disparados pelo submarino nazista. Essa novidade fez com que o processo nº 812/1943 fosse reaberto em março de 2000 a pedido da Procuradoria Especial da Marinha.

– Nessa época eu havia feito um ofício à Procuradoria Especial da Marinha pedindo a reabertura desse processo. No documento eu citei o fato de que houve crime de guerra neste caso do Changri-lá. E foi baseado no que eu escrevi que o advogado Leven Siano se amparou para entrar com esse processo contra a atual Alemanha pelo crime cometido na época da Alemanha nazista, e foi por isso que ele também me convidou para participar dessa audiência – explicou Elísio em conversa com a Folha.

A repercussão da descoberta do historiador cabo-friense fez com que, após anos de silêncio sobre o caso, a Alemanha finalmente se manifestasse no processo em janeiro deste ano. No entanto, o governo do presidente Frank-Walter Steinmeier argumentou que se houver uma obrigação de indenizar as famílias dos pescadores mortos pelo ataque do submarino U-199, isso caberia apenas ao governo brasileiro. É que, segundo ele, vários bens chegaram a ser sequestrados do país, na época, com o objetivo de garantir futuras indenizações. Outras alegações também chegaram a ser feitas no processo como, por exemplo, a minimização do sofrimento dos parentes dos 10 pescadores mortos (sob alegação de que eles tiveram pouco ou nenhum contato com as vítimas), e uma suposta imunidade processual por ter se tratado de um “ato de império”, algo que já foi, inclusive, descartado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Além da reabertura do processo, a pesquisa e descoberta do historiador cabo-friense sobre a verdadeira causa do naufrágio do Changri-lá renderam outros capítulos nessa história ao longo dos últimos anos. Em 2004 os familiares das vítimas conseguiram que a Justiça brasileira incluísse o nome dos pescadores na lista dos Heróis da Segunda Guerra. Em 2015 o caso deu origem ao documentário “O Destino do Changri-lá”, com direção do cineasta mineiro Flávio Cândido. Três anos depois, o trabalho recebeu o troféu Militum 2018 durante II Festival de Cinema de História Militar. Em gratidão à pesquisa que deu origem ao projeto premiado, o diretor acabou presenteando Elísio com o troféu. Em 2022 Flávio lançou “O Changri-lá ainda navega”, um documentário semificcional com duração de 75 minutos.

– O filme conta a história de um cineasta que chega em Arraial do Cabo para retratar a história do Changri-lá e dos descendentes e amigos da tripulação morta pelo submarino alemão U199 em julho de 1943. Ele é baseado na história e nos fatos que aconteceram desde o afundamento da embarcação. Elísio é o pesquisador do caso e pela reabertura do processo no Tribunal Marítimo. Colhi os dados do trabalho dele até o julgamento no Tribunal Marítimo, e daí parti para buscar as pessoas reais que estavam envolvidas na história. Elísio e Paulo Silva foram as minhas maiores fontes – explicou Flávio à Folha na época do lançamento.