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Coluna

Ubuntu

11 maio 2021 - 15h26

Que nome estranho, que palavra esquisita! Possivelmente é a primeira observação que o leitor deve fazer ao ler esse título. Entretanto, essa palavra, utilizada na filosofia africana, presente na cultura de alguns grupos que habitam a África Subsaariana, tem um significado profundo e de grande apelo. Quer dizer: “Sou quem sou porque somos todos nós”. 
Ubuntu se materializa numa ilustração que ouvi recentemente e que passo a compartilhar:  “Conta-se que um explorador chegando a uma tribo na África resolveu fazer uma brincadeira com as crianças nativas. Colocou a certa distância uma cesta cheia de balas e doces e lançou um desafio para a garotada: Os que primeiro chegassem até o cesto, poderiam ficar com os doces”. “Então, para surpresa dele, as crianças deram as mãos uma às outras e saíram juntas em direção aos doces, chegando todas ao mesmo tempo. Todas foram vencedoras, não houve perdedores. Ao indagar delas por que tinham feito aquilo, responderam: Ubuntu!!”

Ubuntu é respeito básico pelos outros, o que nos leva a refletir a sobre um conceito antigo que diz: “Ninguém é alguém sem outro alguém”.

O chamado mundo moderno tem muito a aprender com essa história. A busca desenfreada pelo lucro, pela acumulação de riquezas e poder, tem levado os homens a ignorarem o respeito, a ética, e o direito individual do seu semelhante. Cada qual querendo alcançar o ápice, mesmo que tenha que pisar na cabeça do seu próximo.   

Nas questões econômicas fica evidente o desprezo pelo “próximo”, onde o que prevalece e o atingimento dos objetivos, bem ao estilo de uma célebre frase atribuída a Maquiavel, mas de autoria do poeta romano Ovídio: “Os fins justificam os meios”. Não faltam exemplos do desprezo pela saúde e bem estar dos humanos em detrimento de objetivos econômicos. Indústrias poluentes, medicamentos com efeito colaterais, venda de produtos que causam malefícios diretos às pessoas, desvios de recursos destinados à área da saúde pública, e tantos outros.

Recentemente vimos pelos noticiários relatos sobre o comportamento de algumas pessoas, detentoras de “status” na sociedade, furando fila para serem vacinadas contra o Covid, em detrimentos daquelas que efetivamente necessitam de imunização imediata.

Não podemos esquecer a ânsia de arrecadação de tributos impostas pelos governantes, eleitos pelo povo, para administrar pelo povo, mas que impõem pesada carga, assumida principalmente pelos menos favorecidos. Recursos que vão ser utilizados muitas vezes de forma não muito “republicanas” favorecendo minorias.                                                                                                                 
E o que falar do caráter injusto da forma como são cobrados os tributos pelo sistema indireto, vigente no Brasil?  Percentualmente cobra-se mais de quem ganha menos.  Só para entender melhor: Um tributo no valor de R$ 20,00 embutidos em um produto, que vai ser pago por quem ganha 2.000,00 representa 1% da sua renda. O mesmo produto, pago por quem ganha 10.000,00 representa 0,2 % da sua renda. Isto é justo? Por que não se cobra o imposto a partir da renda?

Por anos atuando na área Fazendária do município, advogava a tese de que “se todos pagarem, todos pagarão menos”. Este era o meu mote. Mas o que se via é que os “pequenos” sempre pagavam seus tributos em dia, mas os “grandes” eram os mais inadimplentes, sempre esperando a “anistia” para quitar suas dívidas sem acréscimos.     

Enquanto os homens pensarem individualmente não se terá uma humanidade justa e uma economia saudável. Ubuntu!!