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Coluna

Solo futuro

07 junho 2021 - 11h07

Tenho no tempo as certezas do ar que já respirei, os fatos e fundamentos dos solos por onde andei. Guardo as falas em vestes de memórias, ecos de fragmentos meus. Trago na bagagem a construção. Ouço o diálogo sussurrado. Falam as circunstâncias, discorda o tempo. Pontuam os resultados, cala meu eu. Nos cabe a melhor versão, garimpar instintivamente no solo das emoções. 

Somos ostras com face, sentidos e reações. Em instantes adversos, produzimos verdadeiras pérolas. É preciosa a forma lapidada, a capacidade que o ser humano tem de sair de cena e evidenciar o produto dos seus reais valores. A tal cenário, sigo observando; maravilhada, compartilho. Em um mundo contraditório, onde fragmentos raros são cultivados, vejo o amor brotar em meio ao medo. Rara pérola com vestes de esperança. 

Virtuoso o ser que tem por preciosa a flor da estação. Aceita cada espinho, faz da própria dor, escalada. Com parcimônia, recepciona o tempo, torna-se anfitrião das próprias emoções. Segue garimpando, por entender que há valor em sua existência. Embora contraditório aos anseios da humanidade, o instante atual a todos ensina. Nossas vestes nunca foram nossas. Não há meu, não há seu. Em fusão, nosso lugar no mundo, pouco a pouco abrange expectativas outrora convictas de construções intuitivas, de falas perspicazes. A nudez das possibilidades, do real controle, nos permite vestes de esperança. 
É permitido sorrir em meio às lágrimas. É permitido aguardar o sol, quando o cenário é de espetáculo tempestuoso. É permitido replantar, resistir, recomeçar, reescrever. É permitido abraçar o porvir. Somos privilegiados por estarmos no futuro. Se chegamos até aqui, em maio de 2021, certamente protagonizamos o futuro. Tocamos com nossos pés o solo do amanhã. Essas marcas evidentes, são congratulas do tempo. Atravessamos mares de incertezas e entendemos que não temos o domínio, não estamos no controle, mas é permitido sentir gratidão. Onde nos leva tal estrada? Ao portal do renovo. Ter gratidão é possuir um tesouro, e nem tudo que temos, sabemos como usar, ou a hora certa para tornar visto. Sentir gratidão, certamente difere. É estar por tempo indeterminado, em estado de graça. Sentir gratidão é compreender que o feito não é nosso, e aceitá-lo na proporção que é.

Diante do cenário em que estamos inseridos, nos é permitido sentir, significa que ainda estamos aqui. Passageiros somos. De passagem, estamos. Façamos a travessia com vestes de esperança. Sejamos, todos os instantes, gratos.