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Coluna

O Cavalo de Tróia

16 agosto 2022 - 10h31

“Presente de grego” é uma frase antiga, muito peculiar nos tempos atuais, e representa algo que é dado como um engodo, uma estratégia astuta para se conquistar vantagens em cima daquilo que está sendo oferecido.

A expressão tem origem na história do “Cavalo de Tróia”, um símbolo de guerra que representou uma estratégia utilizada pelos gregos para derrotar os troianos, contada por Homero (928-898 a.C.), poeta épico grego, no seu poema “Ilíada”. Mais lenda do que realidade, pois não há evidências da sua existência, a construção de um enorme cavalo de madeira, recheado de soldados, foi uma forma utilizada pelo exército grego para conseguir entrar na cidade fortificada de Tróia,
que era protegida por uma muralha considerada inexpugnável.

A guerra já durava dez longos anos, com perdas para ambos os lados, e não havia como conquistar a cidade. Os gregos então construíram um enorme cavalo de madeira, colocaram soldados em seu interior e o dispuseram na entrada da cidade
onde os troianos o receberam como um presente, entendendo como uma oferenda dos seus deuses em comemoração à vitória, pois os gregos haviam se retirado, dando a impressão de desistência. Houve festa para comemorar a suposta vitória, mas, tarde da noite, os soldados que estavam no interior do cavalo saíram, imobilizaram as sentinelas, abriram
os enormes portões para a entrada do exército grego, que estava acampado em uma ilha próxima e assim dominaram a cidade.

Essa história é tão instigante que inspirou Hollywood na produção do filme “Tróia”, de 2004, dirigido por Wolfgang Petersen e estrelado por Brad Pitt como ator principal. Essa produção, que teve um orçamento de US$ 175 milhões e faturou US$ 500 milhões, conta a história da paixão do príncipe troiano Paris por Helena, esposa do rei da Grécia, sendo este o estopim para os gregos declararem guerra à cidade de Tróia, que culminou com a utilização da estratégia do cavalo de madeira, pondo fim à beligerância.

Na atualidade temos visto várias medidas, principalmente governamentais, que têm como objetivo combater práticas ilegais, que lembram a estratégia do “Cavalo de Tróia”, como: a obrigatoriedade de informar o CPF ou CNPJ, em todas as atividades ou ações econômicas e financeiras, o que permite rastrear essas operações pela Receita Federal ou COAF; a criação do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) pela lei nº 9613 de 3/3/1998, que permite analisar e
identificar as movimentações ligadas a eventos ilegais – para tanto, as instituições financeiras são obrigadas a informar ao órgão fiscalizador todas as operações com valores a partir de dez mil reais, caso haja indício de irregularidades; a necessidade dos Cartórios de Registros de Imóveis emitirem a Declaração de Operações Imobiliárias (DOI), relativas a todas as transações imobiliárias lavradas em suas jurisdições; o cruzamento de informações entre as transações com cartão de crédito e as declarações feitas ao fisco pelas empresas; e, por que não falar, o Pix, essa forma tão rápida e descomplicada de efetuar transferências financeiras, sem qualquer tarifa bancária, que expõem todos os usuários? Essas e outras estratégias são utilizadas pelo governo para acessar indiretamente dados das operações financeiras dos cidadãos e
aplicar, quando couber, sanções aos transgressores da lei.

Na área empresarial há notícias de empresas que infiltram agentes nas instalações dos seus concorrentes para praticarem a “espionagem industrial”. Esses agentes infiltrados, fazendo-se passar por funcionários da organização concorrente, apossam-se de dados privilegiados, repassando-os para seus contratantes.

No meio político são muitas as ocorrências de práticas de infiltrações de pessoas no ambiente do adversário, com o objetivo de obter informações que possam concorrer para uma vantagem competitiva. Ainda no ambiente político, encontramos situações em que pessoas são manipuladas, seduzidas com promessas, utilizadas como instrumentos, para
depois serem deixadas de lado. Certo estava Friedrich Nietzsche (1844- 1900), filósofo prussiano, ao dizer: “Um político divide os seres humanos em duas partes: instrumentos e inimigos”.

Nos esportes encontramos os “espiões” que se infiltram junto a uma agremiação para descobrir as táticas a serem utilizadas pelo treinador em uma determinada partida de futebol ou outra modalidade esportiva.

Na área da tecnologia, muito conhecido é o “vírus” Cavalo de Tróia, que vem incorporado a um programa
que aparenta ser legítimo, porém é uma versão falsa do aplicativo, carregada de “malware” (software malicioso). Seu objetivo é enganar os usuários sobre sua verdadeira intenção. É também chamado de “Trojan”, programa que se oculta dentro de outro legítimo com a finalidade de abrir uma porta para que um hacker tenha acesso ao computador.

Não existe almoço grátis, essa é uma velha frase que se eterniza com o tempo. Tudo que parece fácil contém um preço oculto que vai ser pago por alguém em algum momento. Fico com Nietzsche quando ele diz: “Nunca é alto o preço a pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo”.

(*) Clésio Guimarães é empresário, professor, administrador de empresas e representante do CRA-Conselho
Regional de Administração.