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Coluna

Liberdade

02 setembro 2021 - 18h07

Caminha a multidão desbravando o dia. Já ouço o badalar dos sinos apontando que a tarde se aproxima. Pessoas sorrindo em diálogos introspectos, olhares fitando ao longe e sequer percebem que se esbarram. É curioso! Uma nuvem nos sorri. Sol de inverno, tímido e arisco. Ora ecoa sussurros, ora brada em alto e bom som, fazendo bailar sem norte as folhas secas resistentes da estação passada. 

Às 6h eu tomava meu café quando liguei os noticiários. A cena mais triste, contemplei. Mães passando seus bebês de mãos em mãos, até chegarem aos braços estendidos  de militares, intencionando salvar seus pequeninos. Desordem, caos, poder nas mãos erradas. Lamentável. Para mudar a perspectiva, desliguei a TV e mudei o cenário. Troquei a xícara de café por uma taça com um delicioso suco de abacaxi com hortelã. A sensação boa de liberdade durou pouco. Logo vieram as lembranças das cenas assistidas. O choro daquelas mães, o grito daquela multidão ecoando em ondas televisivas.

Por um instante respirei voltando o olhar para os transeuntes à minha frente. Crianças segurando as mãos de seus responsáveis, sorrindo ao contemplar uma pequena abelha. Uma jovem apreciando a vitrine, quase sorria para o manequim. Do outro lado da rua alguém acenava sorrindo para um idoso de cabelos branquinhos, que pareceu não perceber.

Liberdade contrastada. Direito de ir, vir, compartilhar sorrisos, pensamentos. Escolher pausar em um café, apreciar um bom suco, escrever ao ar livre. Somos privilegiados. Quão grata sou por ter nascido em solo brasileiro. Amo a ideia da liberdade que nos condiciona a atravessar fronteiras, solidarizados por amor. Vivemos em países distintos, mas o planeta ainda é o mesmo. Não falamos todas as línguas, mas somos graduados em lágrimas, sorrisos, sede de conhecimento, sede de justiça. Talvez você não conheça a fome, mas já sentiu o estômago incomodar por simples apetite. Não podemos resolver o caos instalado em outras nações, uma vez que haja caos instalado em tantas mentes, cujo corpo vagueia entre idas e vindas, ao desfrutar da tal liberdade.

Já tenho elementos para construir este instante. Conto com a reciprocidade da ponta esférica a deslizar sobre o papel. Em nosso silêncio ouço seu pulsar, como pulsam minhas veias. Que nossa liberdade não nos distraia. Que a dor do outro, mesmo em solo distante, mova nosso coração a clamar por vida. 
Bom dia, Região dos Lagos. Afetuoso abraço.