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Coluna

Fábula da galinha e o porco

17 janeiro 2023 - 20h09

A fábula abordada conta a estória de uma galinha e um porco. Certo dia estavam passeando pela fazenda, quando chegou o fazendeiro e lhes propôs um desafio: deveriam, por duas semanas, preparar um café da manhã diferente a cada dia. Mas, no caso de falha, devida a falta de um cardápio variado, o café da manhã seria preparado pelo próprio fazendeiro. Ficaram ambos motivados, a galinha e o porco, em cumprir a missão, entregando cafés da manhã com cardápios variados. Nos primeiros dias, muito entusiasmo, motivação, inovação e, sempre de forma proativa, dividiam as tarefas, separando os ingredientes para a nova receita e, ao final do dia, já pensavam no que iriam preparar para o dia seguinte. O porco, para agradar o fazendeiro e ser notado, foi chamando para si a atribuição do preparo, deixando a galinha sem tarefas a cumprir, o que o sobrecarregou, de maneira que acabou por negligenciar na entrega do pedido. Daí que o fazendeiro resolveu preparar o seu café, à base de “bacon e ovos”. Para isso o porco teve que ser sacrificado para dar sua pele, e a galinha... Bem, a galinha deu os ovos e continuou a ciscar a procura de minhocas.

Essa fábula chama atenção para dois aspectos presentes e atuantes em todas as organizações humanas, sejam públicas ou privadas: comprometimento e envolvimento. Na área pública fica mais explícito o posicionamento das pessoas em relação a essas condutas, em virtude da alternância na cadeia de comando.

Há uma lógica vigente de que o que é público não tem dono, por isso o Estado é tão explorado, tão roubado, tão espoliado. No passado usava-se a palavra "viúva" para referir-se ao Estado no sentido de ausência de amparo, sem dono. No setor público normalmente encontramos "envolvimento", mas falta "comprometimento". John Kennedy (1917 – 1963), ex-presidente americano, respondendo a um repórter, certa vez disse: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país”.

Esse comportamento de estar envolvido, mas não comprometido, não constitui exclusividade da área pública. No meio empresarial também é comum. Uma história muito conhecida conta que estavam três pedreiros em atividade numa construção. Ao primeiro foi perguntado o que estava fazendo. Respondeu que estava preparando argamassa para assentar tijolos. Ao segundo foi feita a mesma pergunta, pelo que respondeu: “Estou construindo uma parede”. O mesmo foi feito ao terceiro, que, olhando para o alto, com os olhos brilhando, disse: “estou construindo uma catedral!” Os dois primeiros estavam envolvidos; o terceiro, comprometido. Empresas e profissionais bem-sucedidos alcançam esse status porque têm, em comum, comprometimento no trabalho, o que demonstra lealdade, propósitos e valores.

Técnicas de gestão utilizam ferramentas do marketing de relacionamento, em que as empresas, como forma de engajamento, criam frases com sua "missão" e "objetivo", o que fomenta o comprometimento.

Em minha passagem pela administração pública me deparei com muitas situações, algumas meritórias, outras deploráveis. Houve uma vez que encontrei um servidor pegando folhas de papéis em uma impressora para enxugar as mãos; em outra ocasião observei outro servidor varrendo para o lixo diversos materiais servíveis, simplesmente para não ter o trabalho de recolhê-los; e inúmeras outras situações que evidenciavam falta de comprometimento. Claro que chamei a atenção dos servidores e os instruí sobre a importância de zelar pelo que era público. Mas, por outro lado, me deparei com funcionários dedicados, que davam tudo de si para o setor, trabalhando além do horário de expediente, inclusive levando trabalho para fazer de casa. O que deveria ser regra acaba sendo exceção, e se reproduz em todas as áreas.

Quem atua sem comprometimento pode ser classificado como mercenário. Na Bíblia, evangelho de João (capítulo 10), está escrito: “... o bom pastor dá a vida pelas ovelhas, mas o mercenário, e o que não é pastor, de quem não são as ovelhas, vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge; e o lobo as arrebata e dispersa. Ora, o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas".

Verdade é que o mercenário não tem comprometimento, só envolvimento.

Fazendo alusão à fábula, a fim de instituir norteio, deixo aqui uma citação de Jesse Louis Jackson Jr., político e ativista norte-americano, em que diz: “Tanto as lágrimas quanto o suor são líquidos e salgados, mas provocam resultados diferentes. As lágrimas atrairão solidariedade, mas o suor lhe trará progresso.”