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Coluna

Endividamento

20 agosto 2022 - 15h23

Nada causa mais estresse aos homens do que o endividamento, sendo este o causador dos principais males que assolam os brasileiros na atualidade. Insônia, irritabilidade, conflitos familiares e até suicídio, são algumas das manifestações que acometem uma pessoa endividada. Há um texto judaico que diz: “É melhor ir dormir sem jantar do que acordar com dívidas”. Não quero chegar a tanto, mas fato é que quem tem dívidas tem problemas até para dormir.

Por conceito, dívida é a postergação de um pagamento que deveria ter sido feito no ato da aquisição de um bem ou serviço, ou seja, a utilização do crédito para pagamento em uma data futura. Na análise de uma dívida, temos que considerar duas situações: Primeiro se a pessoa está adimplente, isto é, se está em dia com os vencimentos. Segundo, se há inadimplência, situação em que o pagamento não foi realizado e a dívida está vencida. Neste último caso se faz necessária uma imediata negociação, para fazer cessar a cobrança dos encargos incidentes, como juros, multas e correções, além da negativação do CPF em órgãos como Serasa. Na maioria das situações os credores sempre deixam uma abertura para um acordo.

O uso do crédito, de forma racional, é salutar e muitas vezes necessário, entretanto não é o que se percebe no comportamento da maioria das pessoas. A falta de educação financeira, consumo excessivo, falta de reserva de emergência (poupança privada), compras por impulso e desemprego são alguns fatores que levam ao endividamento. Warren Buffett, filantropo e investidor americano, é autor de uma frase que nos leva a pensar: “Se você está comprando coisas que você não necessita, em breve estará vendendo coisas que você precisa”.

Na atualidade, a facilidade de acesso ao crediário tem contribuído muito para o endividamento das famílias. Dados divulgados pela CNC (Confederação Nacional do Comércio) através da PEIC (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência de Consumidor) informa que 78% das famílias brasileiras estão endividadas, sendo o cartão de crédito o maior vilão dessa situação, em função da facilidade de sua obtenção e a possibilidade da pessoa poder possuir vários. O Barão de Itararé (1895 – 1971), jornalista, escritor e humorista brasileiro, ensinou uma forma simples de encarar essas situações, apesar de não recomendável: “Se você tem dívida, não se preocupe, porque as preocupações não pagam as dívidas. Nesse caso, o melhor é deixar que o credor se preocupe por você”.

Em um ambiente econômico o endividamento público é o que mais acarreta transtornos para a população, pois todos acabam sendo afetados, muito embora não impacte diretamente no emocional das pessoas como o endividamento pessoal. Governos endividados, nos três níveis (municipal, estadual e federal), ficam impedidos de prestar serviços justos e dignos à população por redução dos investimentos, aumento dos índices inflacionários, cerceamento de transações comerciais internacionais, dentre outras consequências. Cícero (106 – 43 a.C.) filósofo, orador e estadista romano, disse que: “O orçamento nacional dever ser equilibrado. As dívidas das autoridades devem ser moderada e controlada. Os pagamentos a governos estrangeiros devem ser reduzidos se a nação não quiser ir à falência. As pessoas devem, novamente, aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública”. Quanta verdade, dita há tanto tempo, mas que se faz atual.

A questão do endividamento é antiga, 2.300 anos a.C. entre os sumérios já se falava a respeito desse assunto, quando se discorria sobre a “escravidão por dívida” ou “peonagem”. Naquela época era comum uma dívida ser paga compulsoriamente com trabalho forçado, geralmente envolvendo privação de liberdade e de outros direitos.

O autor do livro bíblico de Provérbios assim se escreveu: “O rico domina sobre os pobres, e o que toma emprestado é servo do que empresta” (Prov.22:7).

Ainda na Bíblia, no evangelho de Mateus (capítulo 18, versos 23 a 25), uma parábola fala do credor incompassivo, exemplificando como era o tratamento usual na época em relação a devedores, assim registrado: “...um certo rei quis fazer contas com os seus servos e, começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos. E, não tendo ele com que pagar, o seu senhor mandou que ele e sua mulher e seus filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinha, para que a dívida se lhe pagasse”. Felizmente esta prática não está mais vigente.

No Brasil, o consumidor endividado que não consegue mais pagar os débitos, tem uma saída através da Lei nº 14.181/2021, conhecida como Lei do Superendividamento, que aumenta a proteção de consumidores com muitas dívidas e cria mecanismos para conter assédios por parte das instituições financeiras. O melhor mesmo é não ter dívidas, mas se for inevitável, administre-as para que não se transformem em transtornos e dor de cabeça. Encerro com outra citação do Barão de Itararé: “Devo tanto que se eu chamar alguém de ‘meu bem’, o banco vem e toma”.

(*) Clésio Guimarães é empresário, professor, administrador de empresas e representante do CRA-Conselho Regional de Administração.