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Coluna

Em memória do feriado

Houve um tempo em que a concepção de um feriado tinha por objetivo o devido refresco da memória sobre algum acontecimento ou personagem especial. Nesse sentido, acho o feriado uma forma fantástica de obrigar a marcha impiedosa do capitalismo selvagem a s

29 abril 2014 - 12h36

Houve um tempo em que a concepção de um feriado tinha por objetivo o devido refresco da memória sobre algum acontecimento ou personagem especial. Nesse sentido, acho o feriado uma forma fantástica de obrigar a marcha impiedosa do capitalismo selvagem a suspender os passos e liberar o tempo que é apropriado do trabalhador para que ele disponha dele para uma pausa reflexiva. E o que não faltam são feriados, civis ou religiosos, que tem como temáticas as lutas pessoais e coletivas contra a exploração, a descrença, o individualismo, entre outras causas e exemplos nobres.

Há quem diga que no Brasil os feriados são excessivos, dando a impressão de que a cultura que predomina entre nós é a de sombra e água fresca. Temos também ferrenhos defensores e os argumentos são os mais variados. Mas uma coisa me parece concreta. Com feriados a mais ou a menos, temos pensado pouco nos seus sentidos. Pergunte a qualquer pessoa que esteja longe do Google sobre o significado de determinado feriado e verás que um filho teu nem sabe do que trata a luta.

E o dia do trabalhador não parece ser uma exceção à regra. Chega a ser um tanto irônico que uma data como essa seja comemorada do modo festivo. Uma data que nasceu banhada de sangue e coragem de verdade. E não me refiro apenas aos protestos de Chicago, no longínquo ano de 1886, imortalizados pela Segunda Internacional três anos mais tarde, como um marco na continuidade das suas bandeiras. Falo de todo o percurso que os trabalhadores do mundo e da história atravessaram na atemporal luta de entre exploradores e explorados.

Desse modo, seria mais conveniente nos lembramos da condição na qual nos encontramos. O capitalismo moderno nos desqualifica como trabalhadores, usando eufemismos de todo o tipo, como parceiros, colaboradores e coisas do gênero, amenizando ou escondendo a verdade que está por trás dessa relação. E ela é simples: Nós não nos apropriamos de modo justo e equilibrado das riquezas que são produzidas pelo nosso esforço. Apenas uns poucos gozam de tudo isso. Pior, trocamos a noção de cidadania pelas relações de consumo. Ou seja, além de termos nosso tempo controlado e tomado pela produção, de não usufruirmos da fração justa da riqueza coletiva, ainda achamos fantástico poder comprar tudo aquilo que o capital estipula como de valor essencial. E geralmente esse essencial é apenas acessório...

Por fim, convém ainda lembrar o apelo final de Marx, na conclusão do Manifesto do Partido Comunista, nos estimulando a união. Com isso, queria que enxergássemos uns aos outros como iguais, submetidos às mesmas forças contrárias, padecendo das mesmas limitações, morrendo dos mesmos males. Lembramos porque isso foi esquecido. Os trabalhadores não se enxergam assim. A luta de um não é a do outro. A luta do outro as vezes me atrapalha, me impede de cumprir minha rotina. E com isso, trocamos os projetos de uma nova sociedade por um jogo pulverizado de negociações pontuais. E assim caminha a humanidade.

O feriado é o que há de mais sólido. O resto se desmancha no ar...