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Coluna

Eleição tem dono?

Engana-se que uma eleição pertença exclusivamente à tríade formada pelos partidos, os candidatos e eleitores. Na verdade, apesar de concentrar em torno de si uma fração considerável do poder que, parafraseando Caetano, pode “erguer e destruir coisas

26 maio 2014 - 15h59
Aqui tem. Engana-se que uma eleição pertença exclusivamente à tríade formada pelos partidos, os candidatos e eleitores. Na verdade, apesar de concentrar em torno de si uma fração considerável do poder que, parafraseando Caetano, pode “erguer e destruir coisas belas”, o candidato, para alçar a posição de eleito, necessita das bênçãos do capital. 
Partindo desse princípio, duas questões se tornam mais claras. A primeira é a paranóia em torno de uma conversão do Brasil ao comunismo, soviético, castrista, chavista  ou qualquer outro que conseguirem lembrar. Dizer que o governo do PT, de Lula e Dilma, é uma virada vermelha, só pode servir ao propósito macabro de justificar uma nova ditadura militar. Das travessuras dos militares, a história do Brasil está bem servida, e a sociedade farta. A imagem de que a farda é o uniforme das vestais, já não engana nem seduz. Não o é. Para quem tem um mínimo de memória, basta lembrar o discurso petista antes e depois da vitória. O que mudou? Quase tudo. E isso nada mais foi do que uma conversão não aos ideais marxistas, mas aos ditames do Grande Capital. Sim. Lula só venceu porque ofereceu todas as garantias possíveis e imaginárias de que os grandes empresários, especuladores, financistas, donos de bancos, de mega-conglomerados, continuariam a mandar, desmandar e lucrar. 
A segunda é a idéia de que o povo está farto da corrupção. Depende. O povo está farto da corrupção dos outros, ou daquela na qual ele não toma parte. Ela está tão entranhada nas práticas políticas que já poderíamos pleitear que a corrupção se torne patrimônio cultural imaterial de nossa sociedade. Ou seja, das bolsas e demais programas, cobram-se adesão e silêncio, sob a pena da perda do benefício. Gostamos de furar fila, passar na frente, receber por fora. Da escolha dos nossos representantes, pede-se o máximo de garantias possíveis de alguma vantagem ou posição. E isso se reflete na má qualidade dos eleitos. As pessoas esquecem que um corrupto não tomou o poder de assalto. Ele foi posto lá por algumas poucas pessoas que compartilharam dos seus ideais e por muitas e muitas que compartilharam do seu dinheiro durante a campanha ou das promessas pós-eleitorais. É o famoso “fechamento”.
Portanto a discussão crucial nas próximas eleições deveria ser melhor posta. Enquanto brincamos de Guerra Fria, o Grande Capital prepara seus planos futuros, a revelia dos nossos interesses. Eles já estão escolhendo seus prepostos. E ele já sabe também que a gente, no máximo, vai fazer caminhada, barulho, protesto. Mas isso ele resolve com repressão, jornalismo comprado, novela das oito e futebol na telinha. 
Também não adianta discutir com quem está no reino da necessidade. A sobrevivência define a posição do laço e a força do nó.  
Ou seja, nossa única esperança de reversão de um quadro como esse está na educação e em eleições mais justas e restritivas, que deixem de ser um espetáculo de som, luzes e mídias. Está na mudança de comportamento, de visão de mundo, de mais solidariedade social, no fim da “Lei do Gerson”. Na recuperação ideológica dos partidos, do fortalecimento e independência dos movimentos de base. O trabalho é grande. O desafio talvez beirando o irrealizável. Mas temos que pelo menos acreditar.