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Coluna

Desperdício

14 maio 2021 - 11h52

 “Fome nada tem a ver com a escassez, tem a ver com riqueza”. Parece um paradoxo essa afirmação, entretanto, é comum atribuir a situação da miséria que campeia em algumas regiões à baixa remuneração do trabalhador, no bojo da má distribuição de renda. Nesse viés, espanta-nos a constatação de que o Brasil é campeão mundial de desperdício de alimentos e de que o nosso lixo é um dos mais “ricos” do mundo.

Um estudo da USP, tempos passados, dentro do Programa da Administração do Varejo (Provar), apresentado quando da realização da Expo Abras, realizada na cidade do Rio de Janeiro, constatou que os estabelecimentos varejistas jogaram no lixo naquele ano o equivalente a R$ 4 bilhões, boa parte referentes a produtos estragados, danificados ou com prazo de validade vencido. Seria o caso de perguntar: por que não doar em lugar de deixar estragar ou vencer? Já fui sócio de um supermercado e enfrentei essa questão, pois há impedimento legal em se fazer doação de produtos vencidos, mesmo constatando-se seu bom estado. A solução nesse caso é jogar fora mesmo. 

Entretanto, o maior desperdício de alimentos começa dentro das nossas próprias casas. Quantas vezes colocamos no prato mais do que podemos comer? Quantas vezes compramos mais do que precisamos?  E para onde vai esse excesso? Já sabemos a resposta... LIXO!

Mas quando falamos de desperdício, o leque é grande. Vai do tempo cronológico aos recursos financeiros. Um dos mais graves problemas com relação ao desperdício é o da água, bem “livre” fornecido pela natureza e utilizado como se nunca fosse acabar. Dados da Sabesp, constantes da agenda 21, mostram que são desperdiçados anualmente 2,08 bilhões de metros cúbicos de água, o que corresponde a 45% da água produzida no Estado de São Paulo. Chega-se ao cúmulo de “varrer” pátios e calçadas com jatos de água. Para se ter uma ideia, um pingo médio, constante, em uma torneira, vai representar por dia 20 litros de água desperdiçada.

O que dizer das coisas comuns, públicas? É quase uma cultura nacional tratar os recursos públicos com descaso e falta de cuidado, como se não fosse de ninguém. Patrimônios depredados, obras inacabadas que acabam sendo demolidas, equipamentos abandonados, são alguns exemplos comuns no dia a dia dos nossos municípios e Estados. Não precisamos ir longe para constatarmos essa realidade.

Não podemos nos esquecer dos desperdícios que não sofrem avaliação monetária direta, como o tempo de espera em filas, o tempo interminável de tramitação de processos legislativos, judiciais e administrativos, engarrafamentos em vias rodoviárias, etc. Perdas irrecuperáveis.  Interessante observar que todas essas situações são passíveis de solução, basta uma campanha massificada de “Consumo Consciente”.       

Questões como filas e tramitação de processos, são solucionadas com a adoção de medidas técnicas ensinadas em nos Cursos de Administração.

No final alguém tem que pagar por todas essas perdas. No caso dos alimentos, as empresas normalmente incluem na planilha de custos um percentual para compensação de perdas, que vai ser paga pelo consumidor. Na área pública essa compensação se faz via aumento da carga tributária.

Finalizo falando do desperdício de “talentos”. Diz-se que o brasileiro é o mais criativo dentre os humanos.  Mas quantas vezes são preteridos na apresentação de ideias e projetos, impedidos de demonstrar sua criatividade? Na maioria das vezes por falta de “QI” (Quem indica). 

Deixo aqui uma citação do economista Roberto Campos (1917-2001), proferida quase três décadas passadas, mas que continua atual: “Continuamos longe demais da riqueza atingível e perto demais da pobreza corrigível”.