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Coluna

Deleite

20 novembro 2021 - 14h59

Das memórias, as falas, os reencontros, os silêncios, a cumplicidade e anseios testemunhados pelos oceanos. Paz e calmaria em Porto quatro vezes centenário e acrescentado por mais seis anos.

Quantas histórias iniciadas, projetadas. Raízes fincadas e geradoras de frutos perseverantes que ultrapassaram o tempo. Quantos pensamentos que ecoaram intenções.

Terra mãe de gerações. Aqui brotaram como férteis sementes. Daqui partiram na plenitude do desbravar. Aqui retornaram com certeiro intuito de permanência. 

Cabo Frio das águas cristalinas, da areia branca, de um intenso brilho solar. Das lágrimas e seu teor salgado, em fusão com tamanha brandura. Cabo Frio das aves que bailam entre céu e oceano, que reconhece a casa, entre matas, sobre a terra, em vôo e constância. 

A ótica é peculiarmente distinta, como distintos são os corações. Cada um trás seu ritmo, cada um intensifica em proporção do vívido sentimento. Do pulsar que antecipa a fala, ainda que o tal ‘falar’ sejam ecos da alma.

São memórias, são raízes, são contextos. Uma vida desbravou tal solo, em 1503. Alguém bailou a valsa do silêncio por tamanha grandeza, por tamanha beleza natural. Solo que hoje tocam nossos pés. Cada um rendido às suas memórias, seus motivos, suas páginas. São registros de esperança, indícios de recomeços. 

Olhos avistaram o pau-brasil, mãos plantaram árvores. Olhos contemplaram as riquezas dos oceanos e lágrimas rolaram na face daqueles que deixaram suas riquezas memoráveis, ancoradas frente ao mesmo oceano. Réstias entre as matas, entrelaços de contextos. Voluntariamente nos tornamos testemunhas do tempo, e pelo tempo somos testemunhados. Tempo, desbravador de intelectos, esta terra fértil em nós, semeada no secreto, cujo âmago se faz despido.
Tempo tem esta terra. Contados foram seus dias e testemunhados pelo sol, por cada estrela, pelas quatro fases da lua. Contatos por aqueles que por longínquo ou curto tempo, tocaram com seus pés tal solo. Testemunhados em fusão com as vivências, com as experiências, com as conquistas e com as frustrações. Há uma beleza em tal contraste! 

Cabo Frio das âncoras e seu sinalizar de profundidade. Um convite a não sermos rasos, superficiais. Cabo Frio onde habita mar de conchas, onde uma concha se faz mar, afirmando as pérolas da existência. Responsabilidade nossa. Cuidar da casa é para o anfitrião. Por esta cidade fui acolhida. A porta me conduziu ao conforto de evidências poéticas, visto que tal Porto para mim é inspiração. Uma vez filha da terra, por adoção, por acolhimento, pela reciprocidade do tempo, passei a cuidar do meu pedacinho de chão. Não o chamo ‘meu’, mas nosso. No tocante ao que me cabe, libertar a escrita foi a condição que me manteve aqui. 

Cada história é preciosa, tem seu valor, tem suas memórias, ainda que o protagonista não a saiba contar. A minha, querido (a) leitor (a), é nossa. Escolhi não seguir só. Por entender a brevidade do tempo, semeio minha melhor versão, acreditando que parte da humanidade a contemplará, terá inspiração para buscar seus próprios motivos e perpetuar tal paz. Há uma singularidade nos instantes, e isso me encanta!

Nesta terra escrevi e escrevo o amor pelos detalhes. Sorri e sorrio o leve que tal estância me faz sentir. Terra jamais tocada pelos pés dos meus ancestrais, mas que gera em mim esperança, quando penso na posteridade. Certamente, deleite! Cada um tem sua própria história. Em memória ou ascensão. E você, querido (a) leitor (a), qual é a sua história? Considera-se minhoca desta terra? Como tocou tal solo? O que te fez permanecer? O tempo é de partilha. Permita que Cabo Frio saiba o bem que tem feito aos seus. Que ecoem nossos melhores sentimentos. Parabéns, Cabo Frio! Bom dia, Região dos Lagos! Afetuoso abraço.