Há uma ladeira íngreme nas Minas Gerais. Uma somente não, mas várias. Afirmo que há peculiar ladeira íngreme em solo mineiro, dessas que avivam as lembranças. Tal arquitetura natural faz a extremidade parecer gangorra. Talvez, por isso, me arranque sorrisos. Há flores por lá. Costumava caminhar por horas apreciando as montanhas, ouvindo o trem ao longe e sentindo as fragrâncias diversificadas das roseiras que avistava pelo caminho.
Ruas calçadas, prédios tombados pelo patrimônio. À primeira vista pareceu antigo, mas o amor fez gerar intensa admiração. Portas abertas, logo se avistava as ruas. Alguns jardins, uma catedral à direita e ao centro, o coreto.
Aos sábados a banda tocava. Algumas orquestras nos visitavam. Corais de crianças e adultos também. Muitas vozes, diálogos que minh’alma reconhece em meio ao silêncio dos dias atuais. Transitoriedade do tempo e suas infindas ramificações.
Território de um céu azul, mas que fazia trovejar, contradizendo a serenidade dos instantes. Aquela saudade boa e repentina, que fazia tal porto seguro parecer tão distante.
Muito verde por lá. Montanhas e uma gruta. O acesso era de chão avermelhado. Chegar lá era verdadeira aventura. Havia uma estrada , ainda há. Acesso a um território vizinho. Recordo as jabuticabeiras e ficava ali. Uma delas prometeu guardar meus segredos. O fez com excelência. Não ecoaram fora das paredes do meu coração. Incontáveis e saborosos frutos.
Costumava degustá-los à beira de um riacho que ficava depois do campo aberto. Era um refúgio especial. De camarote, à beira do riacho, avistava o outro lado. Muitos cavalos corriam nas montanhas e tal cena se repete todas as noites em meus instantes comigo mesma. É bom saber que podemos estar onde nos leva a imaginação. Quando esta nos conduz a vivências de outrora, fica perfeito.
Há vida dentro da nossa vida. Reviver é escolha. Ter as mesmas sensações, é privilégio.
E você, querido leitor, quais são suas boas lembranças? Qual é o seu lugar de refúgio? Tomara que você possa voltar lá algum dia. Desfrutar da sua boa companhia e celebrar este sopro que a humanidade insiste em chamar de vida.
Bom dia, Região dos Lagos.
Afetuoso abraço!