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Coluna

A terceira passageira

26 março 2021 - 19h38

Quando um amanhecer se faz despertar, há uma ótica distinta! É bom quando um dia difere, entre tantos dias preciosos. Há uma singularidade em nós, e como recepcionamos o novo, o que vem de fora, opiniões tão preciosas, que lapidam nossa construção diária, faz toda diferença. Imagina você entrar no carro de um desconhecido. Faço isso todos os dias, como tantas pessoas. Na maioria das viagens, o que ouço é insatisfação. 

Reclamam da pandemia, dos buracos das ruas, do calor excedente. Quase reclamam do amanhecer. Sorrio! Levemente sorrio! Enquanto ouço, admiro a paisagem lá fora, as múltiplas e distintas tonalidades de cores externas, das montanhas ao céu. Sorrio o poder respirar, mesmo que por trás da máscara. Sorrio sentir fragrâncias, nem sempre tão agradáveis, e quem me conhece sabe o quanto uma boa fragrância me alegra... Sorrio o poder ouvir, e acredito que torno mais leve o instante das pessoas, por tê-las ouvido. Mas esta semana algo bom aconteceu. Após quatro frustrantes tentativas de que viesse um carro, após chamá -los por aplicativo, um corajoso aceitou minha corrida. Esse foi guerreiro, comprometido. 

Não se importou com o tempo que precisaria ficar em uma gigantesca fila para retornar a Cabo Frio, após me deixar em São Pedro da Aldeia. Fui a passageira número 3, de um primeiro dia de corridas pelo aplicativo. Exatamente! O primeiro dia dele. Afirmou residir na cidade, com sua família. Com alegria, externou a gratidão por estar atrás daquele volante, e isso é lindo e admirável! Contou-me sobre suas conquistas, o quanto precisou lutar, literalmente, para adquiri-las. Claro que passamos pelo Covid, mas de passagem mesmo! 
Motivo que trouxe ele e sua esposa para Cabo Frio. Quando pensei ter ouvido o bastante, das coisas leves que retratou, vem um bônus e soou como música aos meus ouvidos. Ele tem um sonho, um precioso sonho. Anseia a partilha da sabedoria, do conhecimento. Entendeu a missão. Isso é pura expressão de amor. Doar-se pra fazer a diferença é ser a própria diferença antes dos resultados. Aquele ser humano ao meu lado, em uma das manhãs desta semana, tem nome e muitas medalhas. João Paulo. Bicampeão brasileiro em Jiu Jitsu. Sim, defendeu nosso país, nossa bandeira. Com muito suor e honra. Eu gostaria de falar mais sobre ele, mas não gravei nossa conversa, e não posso escrever além do que lembro para contar, mas a intenção desta partilha, é divulgar a minha alegria em ter conhecido alguém que sonha.

Alguém que se importa em formar cidadãos que encontrem seu norte, sua própria expectativa. Alguém que no mesmo instante pandêmico em que eu e você estamos atravessando, consegue olhar além das adversidades. Consegue sorrir no amanhecer e transformar em oportunidade, o mesmo trabalho digno, mas que tantos tem por obrigação. Desfrutamos do mesmo escaldante sol, seguimos pela mesma estrada que sigo todos os dias, e eu pude sorrir. A terceira passageira, no primeiro dia de corridas de alguém que sonha em dar aos jovens uma oportunidade, através do esporte, de abraçar o futuro. Meu anseio é que o sol desta trajetória, de fazer valer a existência, eternizando as conquistas e mudando vidas, possa brilhar sobre a vida deste campeão, João Paulo. 

Bom dia, Cabo Frio.
Bom dia, queridos leitores. 
Afetuoso abraço!