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Coluna

A força e beleza do imaginário em Nuovo Cinema Paradiso

25 outubro 2022 - 14h52

Se tivesse um filme, um único filme, que pudesse escolher de todos que vi na vida, esse seria “Nuovo Cinema Paradiso” (Cinema Paradiso, 1988) do diretor italiano Giuseppe Tornatore. O filme, essa obra-prima, de Tornatore é sobre o poder do cinema nas nossas vidas, sobre a memória, sobre amizade e amor. 

Salvatore Di Vita (interpretado pelo excelente ator francês Jacques Perri) vive em Roma. Um dia ele recebe um telefonema de sua mãe, avisando que Alfredo está morto. A menção deste velho amigo lhe trará lembranças de sua infância, juventude e do cinema “Nuovo Cinema Paradiso”, no vilarejo de Giancaldo, na Sicília.

O enredo abordará fases da vida de Salvatore na infância, juventude e, agora, adulto. Um flashback, como jamais tinha visto, em camadas que alternam de um jeito meio inocente, meio dramático, exagerado, natural e engraçado. Ao mesmo tempo Salvatore no presente vai ao encontro do seu passado. O filme faz rir e chorar. As atuações do pequeno Salvatore, Totó, como era chamado, entre coroinha da igreja e suas fugas “clandestinas” para o pequeno cinema, e o projecionista Alfredo (Philippe Noiret) se torna uma das amizades entre personagens mais bonitas que vi até hoje. 

O contexto histórico da infância de Salvatore é durante a Segunda Guerra Mundial, pós-guerra, e antes da chegada da televisão, quando o cinema para muitos moradores desse vilarejo é a fuga da realidade – muitas vezes dura, o sonho na vida, essa magia. O filme mostra diversos filmes em preto e branco (histórias dentro da história). A plateia se fascina, decora trechos favoritos, personagens que amam, reveem muitas vezes o mesmo filme favorito, esperam o beijo (clímax dos antigos filmes), gargalhadas de um cinema que existia além do silêncio, no homem simples, em nós. É um roteiro generoso, as atuações de todo elenco são bem conduzidas pelo diretor Giuseppe Tornatore, muitas únicas, brilhantes, e somos transportados para esse mundo (do cinema/da história de Salvatore) graças a belíssima trilha sonora do compositor italiano Ennio Morricone. Salvatore passará ainda pelos conflitos do amor e da juventude, suas buscas, escolhas que o levarão à vida adulta. “Hoje o cinema é só um sonho”, diz um personagem.

Em uma cena do filme, no funeral de Alfredo, Salvatore, décadas afastado de seu vilarejo, pela própria vida e trabalho, encontrará antigos colegas, amigos, pessoas de seu passado. Como na nossa vida, em que revemos algumas pessoas apenas em funerais familiares ou de pessoas que amamos. Salvadore indaga: “Por que me chama de senhor? Não era assim antes.” E o homem diz: “É difícil tratar por você uma pessoa importante [Salvadore se tornou um cineasta famoso]. Mas, se você faz questão, Totó.” Totó e toda simplicidade, empatia pelo outro, relação comunitária – muitas vezes perdida nos dias de hoje, resgate de memória (do antigo cinema, costumes, pessoas, pessoas), dão o fio condutor desse belíssimo filme. 

“Nuovo Cinema Paradiso” venceu como Melhor Filme Estrangeiro o Oscar, e o Globo de Ouro, o grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, e 5 prêmios BAFTA: melhor filme estrangeiro, melhor roteiro, melhor trilha sonora, melhor ator (Philippe Noiret), melhor ator coadjuvante para o pequeno Totó (Salvatore Cascio). 

Hoje começo aqui na Folha dos Lagos, depois de passar por obras dos cinemas francês, alemão e espanhol, o cinema italiano. A cada quinzena, uma obra abordada. Todas as colunas – além do jornal impresso – estão no site da Folha, e integrarão meu primeiro livro sobre a sétima arte. Pretendo falar um pouco sobre obras de diversos países, não só da Europa, mas do nosso continente americano, Ásia, Oceania e África.