sexta, 03 de maio de 2024
sexta, 03 de maio de 2024
Cabo Frio
23°C
Park Lagos Super banner
Park Lagos beer fest
MARCANDO EM CIMA

OAB cobra respostas sobre ação da PM em roda cultural no Manoel Corrêa

Comissão de Direitos Humanos quer identificação de policiais que interromperam a tiros uma batalha de rap na comunidade

14 maio 2022 - 09h45Por Rodrigo Branco

A Comissão de Direitos Humanos da subseção de Cabo Frio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) abriu um procedimento para acompanhar e cobrar respostas sobre o incidente ocorrido na noite do último dia 5, na quadra de esportes do bairro Manoel Corrêa, onde policiais militares interromperam, com disparos de armas de fogo, uma roda cultural. Havia muitas crianças e adolescentes na hora do evento, em que ficaram na linha de tiro.

De acordo com o presidente da OAB de Cabo Frio, Kelven Ambrogi Lima, foi entregue um ofício ao comando do 25º Batalhão de Polícia Militar para saber a identificação dos policiais que participaram da ação na comunidade naquela noite. Os advogados também pediram junto á delegacia da cidade (126ª DP) uma cópia do procedimento aberto pela Polícia Civil. Os organizadores da roda de rap ‘Batalha do Forte’ já foram ouvidos pela Ordem.

– Vamos acompanhar o caso junto à delegacia, junto à Corregedoria da Polícia Militar até a conclusão, momento em que será enviado ao Ministério Público nosso relatório final. A OAB vai tomar as medidas cabíveis, caso entenda que houve algum excesso pelos policiais militares.

A Folha entrou em contato com a Secretaria de Estado de Polícia Militar para saber do andamento do procedimento administrativo aberto para apurar a conduta da equipe que estava no Manoel Corrêa na noite do último dia 5 e recebeu como resposta que ele está sendo finalizado e será encaminhado para a Corregedoria Geral da Polícia Militar. 

“Os policiais militares envolvidos na ocorrência foram ouvidos na sede do batalhão local e foram afastados de suas funções nas ruas até a conclusão dos procedimentos apuratórios”, diz trecho de nota enviada pela corporação, que ressalta manter “ações de patrulhamento regularmente na localidade”. 

Por sua vez, a Polícia Civil limitou-se a dizer para a reportagem que um inquérito foi instaurado na 126ª DP (Cabo Frio) para apurar os fatos. Contudo, não foi dado um prazo para a conclusão desse inquérito. A Polícia Civil também não esclareceu se os policiais militares já foram ouvidos na delegacia.
  
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) informou à Folha depois do fechamento desta reportagem que abriu um inquérito civil para apurar os acontecimentos daquala quinta-feira.

Apesar das imagens chocantes, que foram repercutidas até por veículos da imprensa nacional, o presidente da OAB prefere manter a cautela. Kelven Lima disse que a Comissão de Direitos Humanos também pretende ouvir os militares, embora eles não sejam obrigados a depor, pois a entidade não tem caráter coercitivo. 

– Nós temos imagens que, a princípio, não demonstram qualquer possibilidade de ter pessoas armadas no local, mas a gente pretende esperar o contraditório e a ampla defesa para saber se os policiais têm alguma imagem, alguma prova, se havia pessoas armadas no local e tudo mais. Mas, em síntese, a princípio, a atitude foi bem truculenta – pondera o presidente da OAB.

Roda de rap pode ser retomada no Manoel Corrêa na próxima semana

Uma semana depois do episódio de truculência na comunidade do Manoel Corrêa, o movimento cultural se rearticula para não se deixar calar. Na última terça-feira, dia 10, na Praça da Cidadania, com a participação de centenas de jovens, a reação veio em forma de ritmo, poesia e protesto.

Um dos organizadores da Batalha do Forte, João Pedro Ataíde, afirma que não se tratou de uma manifestação contra a Polícia Militar como um todo, mas contra “os militares que não honram a farda”. O produtor disse que, desde que tudo aconteceu, o grupo toma suas precauções, enquanto acompanha os desdobramentos das investigações.

– É muito difícil. Nossa cabeça sempre fica preocupada de acontecer alguma coisa com a gente, de sofrer algum tipo de represália, alguma maldade, não sei. Porque a gente sabe como, infelizmente, funciona, aqui no Rio de Janeiro. E a gente tem andado todo mundo junto, evita ficar separado, a gente vai mantendo nosso trabalho – disse João Pedro.

E o trabalho deve voltar à comunidade do Manoel Corrêa já nesta semana. A organização da roda cultural se acerta com a Prefeitura e com a Polícia Militar para que o evento seja realizado já na próxima quinta-feira, dia 19.

– Tem que grandes figuras da cena, que eu ainda não posso falar o nome, que estão querendo colar para gente fazer um evento bem bonito mesmo – finaliza o produtor.

(*) Matéria atualizada às 15h07.