Começaram, nesta quarta-feira (27), as obras de ampliação e modernização da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) da Praia do Siqueira, em Cabo Frio. O investimento era um sonho antigo da comunidade, que por anos vem acompanhando a “agonia” da Lagoa de Araruama naquele trecho. De janeiro de 2010 até março deste ano, a orla da Praia do Siqueira, segundo levantamento de balneabilidade feito pelo Inea, esteve imprópria para banho por 115 meses. Foram apenas 40 meses próprios para banho. Nos outros 16 não foram feitas coletas.
Os primeiros acertos para o início desta obra foram anunciados em agosto de 2022. Na ocasião, o então prefeito cabo-friense José Bonifácio havia participado de uma reunião com representantes da Prolagos e da sociedade civil. Ao final do encontro, Bonifácio anunciou que havia firmado um termo de compromisso para que fossem executadas soluções definitivas para a despoluição da Lagoa de Araruama, nos pontos localizados no bairro Praia do Siqueira. Pelo documento ficou alinhado que a concessionária deveria iniciar os investimentos no começo de 2023. O prazo, no entanto, acabou sendo adiado para março de 2024.
Em entrevista à Folha ano passado, Francisco Guimarães Neto, conhecido como Chico Pescador, contou que os pescadores do local sofrem não só com a incidência do esgoto, mas também com a questão do efluente.
– A Prolagos insiste em continuar jogando o efluente para a lagoa, mas a lagoa não suporta essa quantidade principalmente de fósforo, que vai junto com o esgoto. Então isso enfraquece a lagoa, e ela já está com tempo determinado para voltar a escurecer novamente. O que a gente pretende é buscar especialistas, com ferramentas científicas, que mostrem o problema, como já mostraram no passado, e que joguem uma luz não somente para a Prolagos, mas também para os prefeitos, que são quem têm a caneta na mão, e o Estado - contou à Folha na época.
De acordo com a Prolagos, a obra receberá investimentos de cerca de R$ 100 milhões, e tem previsão de término no final de 2025. Ainda segundo a concessionária, “esta é uma complexa obra que irá transformar a estação da Praia do Siqueira na mais moderna da região”.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, quando se trata do tratamento de esgoto, há uma diferença fundamental entre as estações primária e terciária, e essa distinção gera impacto significativo no meio ambiente. Isso porque a estação primária (como a Praia do Siqueira) age como uma espécie de peneira gigante, removendo grandes pedaços de lixo e sólidos pesados do esgoto. No entanto, ela não trata completamente o esgoto, deixando alguns poluentes que acabam extravasando para a Lagoa de Araruama.
Por outro lado, na estação terciária (como é a ETE de São Pedro da Aldeia, e será a da Praia do Siqueira) acontecem processos avançados de tratamento, como filtração e desinfecção. Isso remove não apenas os poluentes restantes, mas também nutrientes adicionais. O resultado é uma água tratada de alta qualidade, segura para reuso ou devolução a corpos d'água sensíveis.
