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Coluna

Setembro amarelo e freiriano

29 novembro 2021 - 13h01

Esta crônica poderia ser freiriana e, portanto, educativa, pedagógica, revolucionária. Mas setembro está indo e o amarelo dos seus dias não pode morrer. Não deve morrer, não se deve morrer, não sem antes viver!

Como o sol garantindo-nos diariamente vida, setembro necessita partilhar sua cor por todos os outros meses. Ainda que haja sol todos os dias, nem sempre o vemos ou sentimos. Às vezes porque está nublado, às vezes porque nós estamos nublados. As doenças emocionais nos atingem irremediavelmente (ou remediavelmente quando nos é possível e acessível o remédio). Nos atingem antes e apesar da pandemia, se estendem e se  potencializam pós e por causa da pandemia. Quase todos os dias um (a) jovem aluno (a) me procura para falar das dores maiores e incompreendidas da sua alma ainda tão precoce. E isso tem a ver com todo o processo educativo que o envolve, isso tem a ver com Paulo Freire, que sempre lutou por uma educação sensiblizadora e comprometida com a realidade do discente, que clamou que se libertem as amarras que comumente nos limitam pelo processo libertador do conhecimento. Hoje, a nossa realidade é uma geração antenada, combativa, mais justa e envolvida com o sócio, contudo, e talvez por tudo, mais adoecida, bombardeada e machucada em suas emoções.

Dia desses , conversando com a minha sobrinha de 21 anos, que por vezes me assombra com a sua maturidade de 30, questionávamos justamente porque tantos e tantas jovens têm sido diagnosticados (as) com depressão ou outras doenças emocionais - que inclusive têm se estentido e multiplicado em sintomas, e, consequentemente, nomenclaturas –  que lhes tiram se não a vida, a vontade de viver. Ela me disse algo que apesar de impactante, me pareceu tão elementar e óbvio após ouvido: tia, herdamos um mundo caótico.

Ao mesmo tempo que essa verdade é dolorosa, pode ser arrebatadora. O caos mobiliza, inquieta, tira do  lugar. E vejo isso nesta geração. Estão ansiosos e levados a se preocupar com o que talvez as gerações anteriores não tenham precisado se importar ou, muito por conta da falta de informação e uma certa alienação, não tenham sidos levados a se preocupar, questionar ou combater. Sim, sempre há lutas, e estas podiam ser outras, e creio que foram.  Mas o caso é que agora precisa se batalhar por muitos assuntos e todos ao mesmo tempo. Lutas que vão desde o aspecto mais coletivo da sobrevivênvia, como pelo ecossistema e meio ambiente, até questões pessoais, como o direito à sexualidade e ao não preconceito de qualquer tipo; passando por questões essenciais como ideologias e representatividades dignas no ramo da política e demais lideranças de cunho social. Há  muito por que lutar, é muito por que lutar! Sinto-os já cansados de certa forma, ainda que corajosos, à procura de um colo e um abraço pra descansar.

Quero estar com eles na luta, como mãe, tia, professora, amiga e quero também, quando não for possível entender ou partilhar de suas lutas, ser o colo e o abraço. Quero auxiliá-los a revisar caminhos para encontrar vida e sentido; quero encorajá-los a ver a morte da dor e a vida da vida. E quero também não ter todas as respostas, porque de fato não as terei, e poder dizer: vamos descobrir, não sei a resposta também!  A vida é feita de contrastes que podem sim nos libertar.  E isso tem tudo  a ver com o mestre Freire, pois de fato “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre e ” Ninguém liberta ninguém. As pessoas se libertam em comunhão” e, por último, mas sem querer de fato acabar: “Não se pode falar de educação sem amor.”

 E não se pode escrever uma crônica sobre setembro e sua campanha pela vida sem falar em quem propôs que nos libertássemos. Freire está aqui, assim como a vida, as lutas, as alegrias e as descobertas. A vida é feita de estações e cores que vão além da primavera e do amarelo de setembro.