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Coluna

Agosto

02 setembro 2021 - 18h07

Agosto. Um mês que carrega estigmas, que carrega rixas, que carrega tópicos, que carrega dias, que me carrega.
Tenho que tomar cuidado pra não deixar minha crônica virar um poema. Explico: sou mais poeta que cronista, mas nada impede que eu faça poesia por aqui, afinal, a poesia não pertence apenas ao poema. A poesia não pertence, ela é. Prometo que conversamos sobre ela depois, ou quem sabe, sempre, mas é que vim decida a escrever sobre agosto. E talvez eu tenha me engendrado pela poesia porque agosto é pra mim poesia.

Não apenas por ser o mês que antes que encerrasse me trouxesse, lá no seu último dia, à vida. Quase setembrando e florindo, agostei. E gostei, sou dada a gostar de neblinas, ainda que traga flores em mim. 

O que me afeiçoa a agosto, além dessa atitude natural de amar um mês por ser o do seu nascimento, é justamente o estigma que ele carrega, assim, meio sombrio. Estigma, vejam bem! Agosto é invernoso ainda, mas é ele quem dá chance à primavera. Não gosto de estigmas, nenhunzinho sequer. E, por isso, tenho uma tendência a me afeiçoar ao estigmatizado, ao julgado, ao despadronizado. Sou uma virginiana – nasci ao fim de agosto né? – bagunçadamente organizada, mas não gosto de padrões demais. Tenho dó, tantas vezes, de quem vive procurando métodos e técnicas, e não os incorporando, maleavelmente, às suas possibilidades. Acredito que é só assim que a gente evolui: conhecimentos e verdades experimentadas e moldadas ao que somos ou sonhamos ser.

Agosto, pra mim, também é mês jardineiro, mês em que a gente vai saindo da toca dos nossos pensamentos e sentimentos mais profundos para florescer. Sementes que dormiam, vão brotando e se possibilitando apenas porque puderam dormir, refletir e se fazerem em agosto. Não há primaveras sem invernos. Não seriam tão belas, tão solares, se não passassem pelo cultivo da terra, do frio e do berço que as antecedem. Não há celebrações sem o silêncio e a pausa de antes. Não há alegrias também sem tristezas.

E agosto é bonito viu? Nada de azar ou de mês interminável. Nada de estereótipos. Que tal a gente aprender a apreciar e valorizar o estigmatizado, que tantas vezes nos cega no nosso próprio preconceito? Deixa o espanto do tempo te curar e levantar poeiras conservadas no âmago. Deixa agosto ser janela que vislumbra céus e caminhos vindouros talvez de flores.

Deixa agosto ser livre e celebrável.