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ESPECIAL

Arraial se organiza para voltar a fortalecer o Turismo no pós-pandemia

Folha inicia série de entrevistas com secretários municipais para saber das ações de retomada turística na região

06 setembro 2022 - 09h00Por Cristiane Zotich

Graças ao avanço da vacinação contra a covid-19, a temporada de verão 2022/2023 tende a ser bem melhor do que as duas últimas, para o alívio de cidades como Arraial do Cabo, que possuem no turismo uma forte fonte de renda e economia, mas viram tudo desmoronar por conta de um vírus. A Folha dos Lagos inicia uma série de entrevistas com secretários de Turismo da região, batendo um papo sobre o assunto com o secretário de Turismo cabista, Marco Antônio Barreto Simas, que confirmou os prejuízos causados pela pandemia, mas revelou que hoje a Secretaria trabalha em cima de políticas públicas, tentando fazer um turismo de forma planejada com uma equipe técnica forte. Segundo ele, as contas públicas só não foram tão afetadas porque grande parte das hospedagens da cidade são clandestinas e não pagam impostos, assim como os passeios de barco. “Só agora estamos inventariado a cidade, inventariando os serviços turísticos, sabendo quem é legalizado e quem é clandestino”, revelou. 

– Fazemos um trabalho sério, onde toda a cidade foi inventariada. Inclusive, fomos selecionados pelo Ministério do Turismo para sediar uma pesquisa de demanda Turística. Arraial foi o único destino do Sudeste justamente pelo trabalho técnico que a gente vem desenvolvendo. Distribuimos códigos QR por toda a cidade, pelas repartições públicas e na iniciativa privada em geral, para que o maior número de pessoas responda. É mais uma ferramenta que vai subsidiar a gente para planejar melhor o turismo, vendo onde estão as falhas, onde podemos mudar, o que pensam de limpeza e de todas as situações – revelou o secretário. 

Folha dos Lagos – Antes da pandemia, Arraial tinha um turismo muito forte que movimentava a economia e gerava emprego e renda para a população. Durante a pandemia muitos desses empreendimentos fecharam as portas. Qual o impacto da pandemia para a cidade? É possível falar em cifras para esse prejuízo? E o quanto essa cifra representa na economia anual da cidade?

Marco Simas – A pandemia impactou Arraial como impactou outros destinos também. Causou problemas em todos os lugares, principalmente no turismo, que junto com a cultura, foi um dos setores que mais sofreu. Em Arraial, na verdade, no ano de 2021 a cidade ficou parcialmente fechada. Estávamos com o controle de entrada por QR CODE: podíamos receber visitantes e turistas, mas com critérios. E esses visitantes precisavam usar máscaras, itens de higiene e proteção, e em número limitado. Limitamos o número de pessoas nos barcos, nos restaurantes, nos bares e nos meios de hospedagem. A Secretaria de Turismo forneceu QR CODE para todas as pessoas. Só entrava visitante com QR code e reserva na cidade (em hospedagem, restaurante, no sistema turístico, etc). Isso nos permitiu viver do turismo ainda, mesmo que na pandemia, com critérios de ocupação no sistema turístico. Ficamos apenas dois meses totalmente fechados, mas a cidade sofreu com a economia sim, já que a atividade turística é a principal em Arraial do Cabo. Mas foi menos que outros destinos que não tiveram movimentação nenhuma. Ainda conseguiu ter movimentação, mas dentro desses critérios.

Folha – É possível dizer qual setor do turismo foi mais impactado pela pandemia?

Simas – Os dois serviços que mais sofreram impactos foram os meios de hospedagem, os passeios de barco e os de restaurantes. O mergulho até teve um impacto, mas o número de operadoras é menor, são apenas 13 na cidade. A grande gama de pessoas impactadas está nos primeiros três setores citados.

Folha – Como esse prejuízo impactou nas contas da Prefeitura já que isso interfere diretamente na arrecadação de impostos?

Simas – Na verdade, o maior número de hospedagens em Arraial do Cabo são clandestinos, não pagam impostos. Os passeios de barco também não pagam à Prefeitura. Em relação às contribuições no município não teve tanto impacto por isso. Só agora estamos inventariado a cidade, inventariando os serviços turísticos, sabendo quem é legalizado e quem é clandestino. O objetivo é a gente fazer uma fiscalização de tributos. Estamos desde o ano passado fazendo esses serviços e agora vamos falar com a Secretaria de Fazenda. Reunir quais estão legalizados, como hospedagem e passeios de barco, restaurantes. Assim, a fiscalização de tributos pode fazer a cobrança, solicitando que os empresários paguem os impostos.

Folha – Já é possível dizer que Arraial está se recuperando, ou já se recuperou, da crise criada pela pandemia? Como? Em que porcentagem?

Simas – Sim, é possível dizer sim que Arraial já está se recuperando. Assim como a pandemia fechou portas, o pós-pandemia já está abrindo, inclusive de novos serviços. Tanto na parte de hospedagem, quanto de gastronomia, você vê uma grande gama de serviços surgindo, novos negócios abrindo novas portas. Arraial é um destino apropriado para ser curtido, visitado pós pandemia. Isso porque os atrativos estão ao ar livre. Arraial é um destino com praias, passeios de barco, trilhas, caminhadas, lagoa e o turista fica muito ao ar livre. Por isso vemos esse crescimento dos negócios, de pessoas procurando ficar por aqui. Acredito que já tenhamos recuperado em torno de 60% a 70% do nosso turismo. Mesmo com a baixa temporada, com a crise financeira no país que atrapalha o turismo, a gente já vê uma recuperação muito forte dos serviços, principalmente nos finais de semana que são prolongados por feriados. Lógico que ainda falta muito, a alta temporada está chegando e existe uma expectativa positiva. Mas trabalhando agora a questão de novas parcerias para cursos de capacitação. Fizemos o Plano Municipal de Turismo escutando toda a comunidade e os empresários. Foi todo feito em parceria com o trade e a população, através de oficinas que realizamos. Trabalhamos também em cima do turismo náutico, para que possamos ter um controle maior desse serviço, principalmente dos passeios de barco, fazendo parcerias com o ICMBio que é o órgão que fiscaliza as associações. Reativamos o Conselho Municipal de Turismo. Ou seja, nesses dois anos, trabalhamos muito o planejamento para que, a partir do ano que vem, a gente possa ter um trabalho melhor na atividade turística. 

Folha – Existiu, na história da cidade, alguma outra crise com impacto tão negativo para o turismo como a covid? Qual e quando?

Simas – A gente teve um impacto na greve de transporte dos caminhoneiros, que afetou a cidade, parou a cidade, mas acho que a inflação é hoje o que mais atrapalha o turismo. Estamos com a inflação alta, o combustível baixou agora, mas a cesta básica ainda está alta. Então as pessoas pensam duas vezes antes de viajar. Arraial não é um destino muito caro, mas você gasta muito na cidade. Todos os passeios são pagos, mesmo quando se está em casas de hospedagem. Então assim, o turista pensa duas vezes antes de fazer a viagem por conta da inflação, as pessoas estão esperando o país melhorar um pouco para viajar. A pandemia foi a principal causa, mas a greve dos caminhoneiros e a inflação vem atrapalhando.

Folha – O que o município vem fazendo para recuperar o posto de uma das capitais nacionais do turismo? Tem participado de feiras, por exemplo? Quando foi a última e quantas estão programadas?

Simas – O calendário de eventos de 2023 já foi todo trabalhado com todas as secretarias. Principalmente com a de educação, de esportes e eventos, e Secretaria do Ambiente. Fizemos o calendário todo do ano que vem, de janeiro a dezembro e em breve será divulgado. Mas tem bossa nova, festival de cultura nordestina que a gente deve sediar no meio do ano, queremos fazer o ibero-americanos com culturas da Espanha, Portugal, América Latina. Mas agora no segundo semestre, estamos com grandes eventos, eventos fortes, que vão ajudar muito na propagação do nosso turismo. Vamos ter agora o festival da lagoa, no final de julho, e a gente vai ter a iluminação de Natal e o réveillon, que já estão programados para acontecer este ano. O mês de novembro também vai ter o festival gastronômico, organizado pelo Convention, e a gente espera o ano que vem para começar um ano muito festivo, se Deus quiser, com muitos eventos.

Folha – Alguma previsão de transatlânticos para o próximo verão?

Simas – A gente começou a conversar sobre Arraial como um ponto de paradas de transatlânticos, mas para o ano que vem ainda não, porque parece que a programação do ano que vem já aconteceu, mas estamos já pensando em 2024. Final de 2023 e início de 2024. O transatlântico tem que visitar Arraial como antigamente fazia, que ele parava na Praia do Forno, curtia ali, mas não entrava na cidade. Nosso objetivo é que eles passem a aportar aqui e visitem a cidade. É isso que estamos trabalhando pra 2024.

Folha – O que mais a cidade vem fazendo para fomentar o turismo?

Simas – A gente pensa na capacitação, no planejamento, no controle e vem trabalhando na observação de baleias. Arraial é o destino perfeito para avistamento de baleias em migração, as jubartes principalmente. A gente vem recebendo um público muito interessante, e tudo indica que isso vai aumentar cada vez mais. Também começamos a trabalhar a observação das aves migratórias, agora o astroturismo com a observação de estrelas aqui na cidade através de uma empresa. E também fortalecendo o turismo nos distritos. A lagoa, as pontas, as salinas, trabalhando em cima das caminhadas, dos brejos e toda a potencialidade nos distritos de Arraial do Cabo, pensando na expansão da atividade turística. Também trabalhamos em cima do novo material informativo da cidade, com novos cartazes, folders e mapas que deverão sair em breve.

(*) Nesta quarta-feira (7), a entrevista é com o secretário de Esporte, Lazer e Turismo de Saquarema, Rafael da Costa Castro.