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'CIDADE DENTRO DA CIDADE'

Tamoios: problemas do tamanho de uma cidade

Moradores do Segundo Distrito de Cabo Frio cobram mais atenção da Prefeitura

23 janeiro 2021 - 12h38Por Rodrigo Branco

Uma verdadeira cidade se descortina depois de 40 quilômetros de trajeto a partir do Centro de Cabo Frio, passando por Jardim Esperança, Estrada da Integração, Campos Novos e São Jacinto. Tamoios parece mesmo um município, com seus condomínios à margem da rodovia, além de um setor de comércio e serviços que cresce a cada dia. 

Com cerca de 70 mil habitantes, o distrito também apresenta problemas na mesma proporção da velocidade com que se desenvolveu nos últimos anos. 

Embora não haja dados oficiais que confirmem, estima-se que entre 70% e 80% da arrecadação municipal de royalties do petróleo sejam provenientes de Tamoios, situação que estimula um permanente anseio de emancipação de Cabo Frio, como quase ocorreu em 2010, quando a proposta de um plebiscito esbarrou em questões políticas em âmbito federal. 

Mantida em território cabo-friense, a ‘cidade dentro da cidade’, na opinião de seus moradores, carece de maior atenção do poder central, situação incompatível com a importância econômica e logística que possui, uma vez que também é local de passagem para Macaé e Rio das Ostras, onde se desenvolve o mercado off-shore. Agora no centro do poder político municipal, por meio da vice-prefeita Magdala Furtado, que é de Tamoios, o distrito espera ver resolvido seus inúmeros problemas, a começar por um hospital fechado em meio a uma pandemia. 

A principal unidade de Saúde da localidade está sem funcionar desde o ano passado, mesmo após uma reinauguração ‘para inglês ver’ promovida pelo governo anterior. 

– Precisamos de um hospital bom para atender a gente. Tenho pessoas de risco em casa mas, graças a Deus, ninguém pegou Covid-19. Mas a gente tem que se prevenir. Se tivesse um hospital bom, com bastante médicos e leitos, a gente não teria que sair daqui e se deslocar para Unamar ou Rio das Ostras – cobra a cozinheira Lídia de Paula Pereira, 56 anos, que mora a alguns metros do hospital, mas que atualmente não tem vantagem na proximidade.

A coleta deficiente de lixo também chama a atenção e, segundo os moradores, é um problema antes mesmo da recente paralisação dos coletores da Comsercaf. Moradora da Rua Sol Nascente há 15 anos, a aposentada Maria Rosas, de 76 anos, criticou a omissão da Prefeitura e atitude dos vizinhos.

– A Prefeitura não tem uma posição de pegar o lixo nos dias certos e os moradores também não ajudam. Porque depois que o lixeiro passa, botam o lixo na rua. Tem dias que fica cheio de urubu na pista. A gente quer passar pela ciclovia, mas tem que espantar. Aqui não tem nada; falta tudo – diz a idosa, que também reclama da falta de iluminação nas ruas.

Aliás, o ‘breu’ na maioria das ruas é um convite para assaltos, conforme moradores relataram para a Folha, sobretudo nas áreas mais distantes da rodovia Amaral Peixoto (RJ-106). Moradores da conhecida Rua da Torre, batizada desta forma por causa de uma antena instalada no meio da pista, o casal Noêmia Alvarenga e Candido Vicente relata que o local foi palco de um tiroteio há alguns dias, o que resultou na morte de um homem. Com um carnê de IPTU de cerca de R$ 600 para pagar, eles pedem a melhoria na estrutura do bairro.

– Aqui na Rua da Torre falta urbanização, falta asfalto. Tem muito buraco e quando chove, alaga tudo. São poças d’água que a gente não consegue passar. Isso aqui está esquecido. Nas ruas transversais, muitas estão sem asfaltar, mas consta como asfaltada na Prefeitura. Está uma buracada. Na rua Surubim, sai de um buraco e vai de outro – relata Noêmia.

Se a vida não está fácil para os motoristas, do mesmo modo está para os ciclistas que fazem um exercício de risco toda vez que precisam atravessar as pistas da rodovia, onde comumente são registrados acidentes e atropelamentos, muitas vezes com vítimas fatais. 

Enquanto esteve no local, a reportagem flagrou diversos ciclistas se arriscarem na travessia, a exemplo da estudante Tainá Alves, de 24 anos, que teve de dar uma corridinha para não ser atingida por um carro.

– Não me sinto segura para atravessa a rodovia. Não tem sinalização e o carros também não param para a gente passar. É bem difícil ter que atravessar correndo – desabafa. 
 
Respostas – Em nota, a Prefeitura falou sobre todos os pontos que foram alvo de reclamações nesta reportagem. Sobre a coleta de lixo, o município informou que desde os primeiros dias do novo governo a Comsercaf vem trabalhando na limpeza de toda a cidade, inclusive de Tamoios, que no último dia 13 recebeu um mutirão em diversas ruas com coleta de lixo e retirada de galhos e entulho, que estavam paralisados há mais de quatro meses. 

Sobre a iluminação pública, a Prefeitura disse que desde o primeiro dia de governo a Comsercaf está realizando troca de lâmpadas em diversas ruas de Tamoios atendendo solicitação da população através dos canais de atendimento da autarquia. A exceção (temporária) é apenas em casos de postes que não tenham braços de luz, cujo processo de compra já está em andamento.

Em relação à instalação de novas ciclovias, equipes da Secretaria de Mobilidade Urbana estiveram em Tamoios durante toda última quarta-feira (20) realizando medições em diversos trechos para levantar a necessidade de material para demarcação de ciclovias. No entanto, já detectou que em diversos trechos existe a necessidade de fazer intervenções para nivelar a pista, e para isso será necessário abrir processo para compra de material. Lembrou ainda que os demais serviços realizados até agora foram todos feitos com materiais que já estavam no galpão da Secretaria.

Sobre o asfaltamento das ruas, a Prefeitura informou que em virtude da falta de recursos municipais, está buscando apoio dos governos estadual e federal para um programa de asfaltamento de algumas vias na cidade. Já em referência aos alagamentos, o municiípio alegou que desde o começo da gestão, a Secretaria de Obras e Serviços Públicos está realizando trabalho de desobstrução dos bueiros em vários pontos de Cabo Frio, inclusive em Tamoios, com o objetivo de minimizar os impactos da chuva. Informa ainda que nos trechos da rodovia de Tamoios são necessárias intervenções do Governo do Estado com obras de drenagem.

Por fim, em relação ao Hospital fechado, a Prefeitura informou que a unidade foi encontrada pela nova gestão com necessidade de adequações na estrutura e nos equipamentos necessários para o funcionamento. Um levantamento completo está sendo feito pela Secretaria de Saúde, para que tais adequações sejam realizadas com a maior urgência possível. Informa, ainda, que a reabertura do Hospital de Tamoios também depende da troca do transformador pela concessionária Enel, o que já foi solicitado por parte da Prefeitura.

Procurada, a Enel disse que somente no último dia 12 recebeu um ofício da Prefeitura Municipal de Cabo Frio solicitando o aumento de carga do hospital. Entretanto, o ofício está incompleto e será necessário a prefeitura refazer a documentação.  Na mesma semana, entramos em contato com o município e estamos aguardando a entrega dos documentos necessários para o processo seguir.

Sobre a segurança na área, a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que segundo dados colhidos junto ao 25ºBPM, a previsão de ocorrências de roubos de rua na região do 2ºDistrito/Tamoios para o mês de janeiro é de queda de 85% em relação ao mês de janeiro de 2020. Apenas um registro de roubo foi apresentado para a região mencionada até esta quinta-feira (21). Em janeiro de 2020, foram 11 registros de ocorrência para roubos de rua na região de Tamoios.

Já em relação às condições de segurança da Rodovia Amaral Peixoto, o Departamento de Estradas e Rodagem (DER-RJ) informou que os serviços de manutenção, como manutenção de asfalto, roçada e limpeza são realizados de forma contínua na RJ-106. Nas próximas semanas, o departamento irá atuar em pontos do acostamento. A sinalização horizontal foi revitalizada recentemente neste trecho. Com relação à iluminação pública, o órgão vai programar a manutenção no trecho para as próximas semanas.