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Coluna

Yes, nós temos bananas!

Pena que equilíbrio, responsabilidade e coerência, não dão em cachos. Se dessem, já teriam sido “viralizados” ou transformados em camisas Cult de quase cem pratas

02 maio 2014 - 11h18
Um dos aspectos mais interessantes da globalização e do avanço dos meios de comunicação foi a virtualização das relações. Esse fenômeno social, ainda pouco estudado, tem dado origem a experiências nas redes sociais que transcendem o compartilhamento de imagens, sentimentos e vivências. Avançam simbolicamente para algo que é tão complexo quanto efêmero, já que a postagem de hoje não é mais a leitura desejada de amanhã. E vamos observar isso através de alguns aspectos. 
O primeiro deles é universo da incoerência. Fazer campanhas que reverberam fatos acontecidos com nossas estrelas, com aquela pitada poser e midiática, faz com que se dissemine um sentimento de protagonismo politicamente correto. É o caso das bananas. Antes disso, quem pensava em um selfie contra o preconceito racial, algo que não é novidade em um país como o nosso?  Sentimos-nos ofendidos aos sermos comparados a macacos. É justo e devemos sim nos posicionar. Mas não reforçando o que não somos, mas reafirmando nossa dignidade. Agora, também é necessário que tenhamos forças para rever as nossas mancadas. E elas vão desde os nossos preconceitos internos, quanto às ofensas e estereótipos que temos contra o estrangeiro. Execramos argentinos, venezuelanos, colombianos e bolivianos. Fazemos piada do Paraguai. O português para nós é um idiota, o norte-americano, um boçal reacionário. Asiáticos são todos iguais. Apesar do Programa Mais Médicos ter trazido profissionais de vários países, cismamos com os cubanos e os tratamos com extrema grosseria. Isso sem falar nos inúmeros ativistas de sofá. Postam todo o seu apoio, o virtual apenas. E isso, na sociedade do espetáculo, basta.
O segundo aspecto pertence à dimensão ética. De uns tempos para cá qualquer um virou jornalista da chamada mídia alternativa. Analista político e guru do fim dos tempos também... E mais, a dimensão da opinião pessoal é posta sem nenhum apreço a integridade das pessoas, sem falar no descuido com que as afirmações são vomitadas na rede. São como assassinos em série. Matam reputações. Se estiverem errados, pedem desculpas. Simples assim. Como se fosse tudo um mal entendido. É o terreno fértil das penas de aluguel, seja daquelas assumidas e explícitas, às que se comportam como a saudosa Viúva Porcina, “aquela que foi sem nunca ter sido...” Ou vice versa, vai saber... Sem falar dos que perderam o pudor de defender abertamente a opressão, a morte, o arbítrio e o fanatismo excludente. 
Por último, mas sem a pretensão de esgotar o papo, vem a questão da liberdade. Mídias sociais não são apenas locais privilegiados para colocarmos o que pensamos e de mostrarmos o que se oculta por trás de interesses diversos. É o espaço das nossas escolhas. E esse princípio legal, democrático e republicano precisa ser respeitado. Portanto, a colher que mede nesse ciberespaço diz muito mais ao conteúdo do que a forma. Não são os meus “amigos” de facebook que me definem, mas o que com eles ou sem eles eu posto, defendo, discordo, curto ou não. E por aí vai. Portanto, não existem dois mundos, o ser é único. Tem a liberdade de expressar-se livremente e não sofrer por isso limitações injustas ou agressões descabidas. Mas também, por outro lado, não pode se queixar quando cobrado com relação ao que é dito. É o princípio da responsabilidade e da coerência. Escolhas não são neutras. E todas têm preço e caminho. Ninguém está isento de críticas e de assumir as conseqüências do que defende. Para o mal ou para o bem. Como já ocorre no mundo de carne e osso...
Pena que equilíbrio, responsabilidade e coerência, não dão em cachos. Se dessem, já teriam sido “viralizados” ou transformados em camisas Cult de quase cem pratas. Quem sabe não é hora de curtirmos e compartilhamos a idéia de uma “cibercivilidade”?