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Coluna

Um Debate Chato

O debate do último domingo (28) na Record deixou ainda mais evidente alguns aspectos já perceptíveis no processo eleitoral desse ano. Em comum, a imensa dificuldade em falar de projetos. De todos a que mais teria a contribuir, pelo legado que já constitui

03 outubro 2014 - 17h48

O debate do último domingo (28) na Record deixou ainda mais evidente alguns aspectos já perceptíveis no processo eleitoral desse ano. Em comum, a imensa dificuldade em falar de projetos. De todos a que mais teria a contribuir, pelo legado que já constituiu (e são ganhos consistentes para o país), era a presidente Dilma. Entretanto, também esbarrou na conhecida dificuldade que possui em expressar com clareza e naturalidade suas ideias, recorrendo a escritos preparados previamente e não conseguindo desfazer a cara de contrariada sempre que era posta nas cordas.

Aliás, foi o debate de uma nota só. Ao invés de uma ampla discussão sobre projetos, um ataque kamikaze dos opositores à atual presidente, em especial, com relação às novas denúncias relacionadas à Petrobrás. De uma hora para outra, todos os demais candidatos deram a entender que a corrupção é um fato surpreendente, como se nos demais governos que ou fizeram parte ou que são representantes ideológicos, não existissem tais feitos. Nesse ponto, a presidente se saiu bem, mostrando que não importa quem vença, a podridão do jogo de bastidores será uma constante a ser combatida.

Aécio, o desolado, foi quem deu o tom ao samba. Carente de projetos e de legado, não consegue sair das duas únicas âncoras que o sustentam, seu governo em Minas e os governos de FHC. Continua com dificuldades extremas de comunicação, pois quem vê sua expressão facial não consegue discernir se ele está sério, se desejar rir, se está falando o que pensa ou se pensa que está falando.

Marina e Eduardo Jorge protagonizaram um triste espetáculo. O candidato do PV conseguiu a façanha de situar seu partido num limbo ideológico, ou seja, afirmou estar a serviço da direita ou da esquerda, desde que chamado a opinar nas causas ambientais. Já imaginou ser convidado a plantar árvores sobre uma vala de presos políticos fuzilados? Já Marina mais uma vez não consegue sair do melancólico e pobre discurso de que vem sendo caluniada. Esconde seus apoios, compromissos e crenças debaixo de sete véus. Volta ao rocambolesco conceito de nova política que, segundo ela, vem da relação direta com aquilo que só ela entende por “sociedade”. Ambos, só tangenciaram temas macarrônicos e mais uma vez se mostraram incapazes de provar ao eleitor como se deve governar o Brasil. Eduardo, num momento de rara felicidade discursiva, disse que precisaria de uma lupa para ver as diferenças entre o PT, PSDB e PSB...

Os “irmãos siameses” Levi Fidelix e Pastor Everaldo cumpriram seu papel. Desconhecem por completo qualquer temática relacionada ao Brasil ou à administração pública (salvo por alguns dados quantitativos que qualquer um tem acesso...) e estavam ali apenas como representantes ideológicos da extrema-direita, dos homofóbicos, dos racistas, dos liberais. É a versão rechonchuda do “Tradição, Família e Propriedade”. E claro, de olho na engorda das suas legendas... E, por fim, Luciana Genro esgoelando um marxismo decorado às pressas, pintando um cenário de governo possível apenas com a tomada do poder pela via revolucionária. Teve o mérito de ser a única a tratar de temas considerados tabus políticos, aqueles evitados a todo custo pelos marqueteiros, como racismo, união civil de homossexuais, aborto e coisas assim.

Em suma, um debate chato. O próximo eu juro que assisto no bar. Porque de bico seco é dose.