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Coluna

Era apenas um viaduto ...

A recente queda de um viaduto na cidade, obra que integra o Programa de Aceleração do Crescimento, ganhou as manchetes do país, rivalizando timidamente com todo o sensacionalismo em torno do machucado do Neymar. A conotação eleitoral dada ao fato já era e

09 julho 2014 - 12h04

Caía a tarde feito um viaduto, e um bêbado trajando luto... Versos inesquecíveis na voz de Elis Regina. Entretanto, poesia e realidade se misturaram em Belo Horizonte. A recente queda de um viaduto na cidade, obra que integra o Programa de Aceleração do Crescimento, ganhou as manchetes do país, rivalizando timidamente com todo o sensacionalismo em torno do machucado do Neymar. A conotação eleitoral dada ao fato já era esperada e, mesmo sendo uma obra com recursos federais, todo o processo de gestão e execução era da prefeitura de Belo Horizonte. Obviamente isso não isenta o governo federal em seu papel de fiscalização e acompanhamento do nosso dinheiro pois nada pior do que pagar altíssimos impostos e ficar sabendo que obras monumentais estão indo parar nas mãos de empresas com ligações, no mínimo, obscuras.

Mas ao contrário da música, o luto só foi sentido por quem não estava embebedado com a euforia meticulosamente provocada pela mídia de massa com relação a Copa da Fifa e seus últimos acontecimentos. De uma hora para outra, passou a ser quase uma questão de relevância pública a punição ao jogador que deslealmente contundiu o menino de ouro da seleção. As manchetes acompanham passo a passo a recuperação, os apelos emocionais relacionados aos sonhos do jogador, da seleção e por aí vai...

Os sonhos dos que morreram ou perderam parentes no acidente do viaduto não tiveram a mesma intensidade midiática. Nem tampouco os milhões de sonhos abreviados pela ineficiência gritante do sistema de saúde pública no país. Também não se chora ou se comove a nação quando uma obra cara tem como resultado a imperícia, a corrupção, o desvio de recursos, o caixa-dois, ou mesmo a sua inexistência.

Neymar não esperou na fila do Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia. Não precisa. Sorte dele. Assim como nossos ilustres eleitos e celebridades, não tratam suas doenças nos mesmos hospitais que afirmam ser referência para o povo.

E vamos que vamos, porque a tragédia do viaduto já está em processo de decomposição adiantada, vai morar no esquecimento muito em breve. Lá, no mesmo local onde guardamos os casos de corrupção, os escândalos, roubos e precariedade de toda ordem. Afinal, somos brasileiros e não desistimos nunca! E pelo jeito nunca desistiremos dos maus políticos.