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Coluna

Os Perigos do Centro

Da última vez que vivenciamos no país uma experiência ditatorial pudemos observar que, apesar de preponderante, a força do fuzil não foi a causa determinante do processo. É preciso recorrer aos fatos numa análise mais ampla. Em primeiro lugar, o mundo aca

13 novembro 2014 - 13h19

Da última vez que vivenciamos no país uma experiência ditatorial pudemos observar que, apesar de preponderante, a força do fuzil não foi a causa determinante do processo. É preciso recorrer aos fatos numa análise mais ampla. Em primeiro lugar, o mundo acabara de sair dos escombros da Segunda Guerra e o contexto da Guerra Fria entre os vitoriosos comunistas russos e os norte-americanos capitalistas, engendraram um novo conjunto de práticas aplicadas ao existir.

Nas Américas, o desmonte dos governos nacionalistas foi arquitetado sob a sombra da expansão do comunismo internacional e percebeu-se como necessária a desarticulação de quaisquer políticas de estado que se concentrassem nas massas e, em especial, na classe trabalhadora, ainda que de modo tutelado. Naquele tempo, a evocação das forças armadas como interventoras tinham por justificativa a “limpeza” do cenário político nacional, retirando do poder tanto os remanescentes do período dito “populista”, quanto os que consideravam arautos da onda vermelha.

Entretanto, o golpe foi dado no momento em que os que podem ser considerados politicamente como de “centro”, penderam para o lado da “direita”.  O resultado foi uma intervenção saudada como solução, como redenção, mas que em pouco tempo colocara a garras de fora e mostrava ao país e ao mundo sua face mais bestial. Ela surge quando se percebe a fragilidade do mando emanado das solas dos coturnos, quando 65 se avizinhava com uma força quase irresistível aos apelos eleitorais. E os militares perceberam na teoria e na prática que não eram bons de urna.

Desse modo, o regime que nasceu para prevenir de modo paranóico uma suposta “ditadura comunista”, tornou-se uma exatamente uma ditadura da pior espécie. O que nasceu como intervenção, consolidou-se no rastro dos Atos Institucionais como o império do arbítrio. O tragicômico foi o papel desse mesmo “centro”, tão logo escorraçado do poder pelos cães raivosos, pelos arautos do irracional. O que restou? Um país transformado em caserna. A corrupção acabara? Não, agravara-se. O país deu um salto econômico? O milagre custeado pelo crédito fácil dos EUA cobraria logo seu preço nas décadas seguintes. 

Hoje tentam ressuscitar uma nova ameaça comunista, nem que para isso tenham que chamá-la de bolivariana. Obviamente que se trata de um argumento superficial que mostra o profundo desconhecimento do que significam os termos (Se soubessem que Bolívar era aristocrático e que no fim da vida nutriu desconfianças à democracia, ficariam desconcertados). Na falta de energia para sustentar essa cantilena, voltam a colocar a corrupção como tempero, salpicada com as salsas do fatalismo estatístico, do apocalipse econômico... Não dá caldo, não dá liga. Porém, muitos hoje defendem uma nova intervenção militar como solução. É a história se repetindo a um só tempo como tragédia e farsa. Já sabemos como isso funciona e suas consequências bizarras. Resta saber se o “centro” vai novamente trocar as pernas e tombar para a direita, guiado irresponsavelmente por algumas mídias.