Existe um elitismo preocupante por trás da busca pelo ‘turista de qualidade’. Repare que esse termo costuma vincular maus comportamentos ao baixo poder aquisitivo de quem vem a Cabo Frio, supondo que pessoas pobres são responsáveis por pouco consumo nos comércios, falta de educação, violência, desordem e uma infinidade de palavras pejorativas, desdobrando o elitismo em um discurso de ódio a quem vem de fora.
Esse sentimento é velho conhecido na história da cidade e remete à época quando migrantes de outras regiões tinham que ter sua honra atestada por um cabo-friense. Para realizar compras, por exemplo, perguntava-se a procedência da pessoa. Ainda hoje, se fala o termo ‘campista’ sem perceber que nele está embutido a estranheza aos forasteiros.
Se os primórdios indicavam que a desconfiança no forasteiro estava calcada na tradicionalidade das primeiras famílias que habitavam Cabo Frio, atualmente esse sentimento está muito mais atrelado aos interesses do capital. Não a toa este grupo se expressa por meio da criminalização da pobreza. Não percebem, no entanto, que amargam a nostalgia de uma classe média em ascensão que não existe mais e esquecem que estão bem distantes da elite econômica. Estão, isto sim, próximos da pobreza financeira que criticam.
A pandemia reforçou que o presente e o futuro de Cabo Frio é receber o turismo doméstico, pois a diminuição de viagens aéreas afunilou as opções de lazer do brasileiro, fazendo com que as viagens terrestres sejam mais viáveis. Sendo assim, a cidade continuará sendo o principal destino de Minas Gerais e Baixada Fluminense.
Essa constatação convoca os moradores e operadores do turismo a uma reflexão sobre o acolhimento aos turistas e a responsabilização pelas deficiências dos próprios serviços oferecidos. Nosso objetivo, portanto, é perceber que o êxito do turismo cabo-friense passa pela ética de assumir os últimos versos do hino de nossa cidade: forasteiro, não há forasteiro, pois nesta terra todos são iguais.