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Coluna

Marina?

O que levaria muitos brasileiros à crença de que Marina Silva é a solução para os problemas políticos do Brasil? Após a morte de Eduardo Campos, o nome da provável nova candidata do PSB ganha as manchetes, redes sociais e parece ligar o motor de arranque

19 agosto 2014 - 17h01

O que levaria muitos brasileiros à crença de que Marina Silva é a solução para os problemas políticos do Brasil? Após a morte de Eduardo Campos, o nome da provável nova candidata do PSB ganha as manchetes, redes sociais e parece ligar o motor de arranque de toda a eleição, o aspecto passional e quase irracional do voto. Sim, pois considerar Marina como uma renovação no modo de se pensar e construir a política no Brasil se sustenta mais no plano das emoções do que no da razão.

Sua popularidade é um fenômeno parecido com o que experimentou o ex-presidente Lula. Um passado pobre de lutas e privações. O combate aos interesses dos poderosos e o crescimento no espaço político sob a aura da defesa das boas causas, das causas corretas, do povo oprimido das vilas, favelas... Mas as semelhanças param por aí. Apesar de Marina possuir um currículo eleitoral mais diversificado do que o ex-presidente, este conseguiu o que ela ainda não obteve. E não falamos aqui da cadeira presidencial (algo provável apenas para os analistas da Veja...), mas da capacidade de elaborar um discurso simples e direto para o povo. Uma fala que pode não demonstrar o refinamento de um erudito, mas que consegue ser diversificada e objetiva o bastante para deixar claro o que pretende e o que será feito. A fala de Marina é rocambolesca, recheada de slogans, de neologismos e terminologias que se tornam vazios de sentido por que... Realmente o são. Cada um deles deveria vir acompanhado de uma nota de rodapé, para que o eleitor consiga entender o que ela quer dizer quando fala, por exemplo, da “implantação de novos arranjos organizacionais”.

E ela foi ministra de Lula. Em sua experiência numa pasta executiva, mostrou capacidade na defesa de causas ambientais e comprou brigas com os poderosos do agronegócio. Entretanto, mostrou incapacidade na articulação interna e externa, justamente no que é mais complexo e que exige urgência no político contemporâneo, o crescimento sustentável. Perdeu espaço, demitiu-se. Ressurge no cenário político como antítese ao PT no qual praticamente nasceu e criou-se politicamente. Aderiu ao Partido Verde e foi para as eleições presidenciais. Perdeu as eleições, mas conquistou um patrimônio eleitoral de 19 milhões de votos. Entretanto, que votos são esses? Dos evangélicos como ela? Dos ambientalistas brasileiros? Dos jovens que apostaram na primeira coisa diferente que surgiu no horizonte? Foi um voto de protesto ao PT? Ainda não se sabe ao certo.

O que se podemos saber de fato é que os alardeados 19 milhões de votos, tão saboreados nas palavras dos analistas políticos pode surpreendentemente não dizer tanto assim. Em eleições passadas, o atual candidato a governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho recebera 15 milhões de votos para presidente.  Um patrimônio surpreendente, não? E o qual o legado disso tudo? Não era para se tornar uma novidade, uma nova tendência, uma nova liderança no cenário nacional? Não foi. E o mesmo pode-se dizer de Marina. Mesmo com tamanho patrimônio eleitoral, não consegue emplacar seu novo partido, o Rede Sustentabilidade (novamente um nome que diz tudo e nada ao mesmo tempo...).

Sua sobrevivência eleitoral passa a depender de um enxerto estranho dentro do PSB, e uma vez lá, colocaram-na como vice de Eduardo Campos. Isso significa muita coisa. Na comédia, mesmo os novos talentos precisam que um comediante mais experiente lhe sirva de escada para emplacar a boa piada. Na política não é diferente. Marina seria a muleta de Eduardo.

Mas com a morte de Eduardo Campos, ela assume como protagonista da trama. Rouba a cena do velório com sorrisos, fotos, e “selfies”. Distribui autógrafos, dá entrevistas, fala do futuro político. Em suma, o que seria um enterro se transforma em agenda eleitoral. Simples assim. Entretanto, nada em política é tão simples. Está claro que o PSB é algo acidental e transitório na vida de Marina. Tudo leva a crer que num futuro breve o projeto da REDE será retomado, e a pomba socialista terá que levar o galho no bico para outras paragens. Mas não é só. O desafio hercúleo dos marqueteiros é fazer com que ela não sucumba ao discurso monocórdio. O mesmo já ocorrera também numa eleição presidencial, com o gente boa Cristóvam Buarque, que colocou o eixo da educação como o centro do discurso. Está certo que educação ou meio ambiente sustentável são temas da maior relevância. Mas não são os únicos temas. A sociedade é complexa, o governo é complexo e os problemas também o são.

Por fim, sobram ainda os fantasmas, verdadeiros ou não, que a assombram. Sobretudo em artigos e redes sociais, é possível vê-la pintada tanto como uma “dirigente comunistas a serviço da sovietização do Brasil”, quanto uma “ungida de Deus para governar essa nação em Seu nome...” Ou ainda como algo que seja diferente, a luz no fim do túnel, a saída para a surrada disputa entre PT e PSDB...  Seja como for, para o bem ou para o mal, não se sabe bem ao certo o que Marina de fato é e o que de fato representa. Tampouco o que fará. Muito menos como traduzirá em plano político o que hoje só se mostra como plano de poder.