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Coluna

Mais uma reforma? 

Dia desses, depois de ler pela enésima vez algo relacionado sobre o movimento que se auto denomina como “Escola sem Partido”, perguntei aos meus botões: afinal de contas, o que isso quer dizer, realmente?

14 julho 2016 - 13h08

Dia desses, depois de ler pela enésima vez algo relacionado sobre o movimento que se auto denomina como “Escola sem Partido”, perguntei aos meus botões: afinal de contas, o que isso quer dizer, realmente?

A rigor, a Escola ao menos formalmente, deve ser realmente “sem partido”, ou seja, aquilo que é transmitido passa por um crivo que não é o político, mas o científico. Ok, até aí tudo muito bem. O argumento dos defensores desse movimento (estou fazendo um esforço muito grande para considerar a defesa de uma proposta como essa como um “argumento”) é que nossas escolas, ao invés de ensinarem estão “doutrinando” nossas crianças com valores que, no entender de seus defensores entram em choque com os valores da família e coisa e tal.
Além disso, seguem os defensores da “Escola sem Partido”, ideologias de esquerda predominam no discurso de nossos professores, notadamente os ligados às Ciências Humanas. Gostaria de saber sinceramente, como seria uma aula de Física e Matemática dentro dessa proposta, digamos, “inovadora”. 

A História mostra que toda vez que a política tentou livrar a Ciência da ideologia de seus cientistas, a coisa acabou mal, bem mal. Quando Josef Stálin chegou ao poder, ele decidiu estabelecer como parâmetro de correção científica, aquilo que prescrevia o materialismo histórico dialético, ou pelo menos como ele assim o interpretava. Sob essa perspectiva, a Genética era encarada como uma “Ciência Burguesa” e por isso foi praticamente banida das universidades soviéticas. O mesmo aconteceu com a Estatística, considerada também tributária de valores simpáticos ao capitalismo. Esse amontoado de asneiras teve efeitos a longo prazo muito sérios não só para a União Soviética, mas para a ciência russa. Embora os russos sempre tenham se notabilizado por contribuições científicas, campos como a Biologia foram afetados por este tipo de postura.

Na Alemanha, quando Hitler e os nazistas chegaram ao poder em 1933, a Teoria da Relatividade de Einstein deixou de ser ensinada em muitas universidades sob o pretexto de que ela era uma “Ciência Judaica”. O mesmo se deu com a Psicanálise de Sigmund Freud. Ora, foi exatamente por causa deste tipo de postura que milhares de cientistas russos e alemães foram parar nas universidades dos Estados Unidos.

Esse foi o “presente” que Hitler e Stálin deram aos Estados Unidos. Desde então, as universidades americanas não fizeram mais do que colecionar prêmios Nobel, ano após ano. Nossa Educação, como é de conhecimento geral, nunca foi lá essas coisas. Corre o risco de ficar pior se um movimento como esse vingar. Volto a falar: gostaria muito de saber como seria uma aula de ciências dentro do “currículo” da Escola sem Partido.

Creio que as reais motivações de um movimento como esse são aquelas velhas de sempre: poder e dinheiro. Mesmo desacreditada, a Educação é o setor das políticas públicas que mais recebe recursos, perdendo somente para a Saúde. Existe toda uma cadeia produtiva que vai do livro didático à merenda escolar, passando pela concessão de financiamento de projetos de pesquisa que se tornaram alvos daqueles que defendem que nossa Educação deva ser conduzida sem partidarização. 

Não me espantaria se depois de algum tempo, posições chave dos conselhos do CNPQ, CAPES, FAPERJ e FAPESP estejam ocupadas por membros ou simpatizantes deste movimento. Da mesma maneira, não seria surpresa também se o currículo dos ensinos fundamental e médio fossem reescrito, por outros atores, mais afinados com o  movimento Escola sem Partido.

Tudo isso representa bilhões de reais em verbas e financiamento. Na minha opinião, isso é motivo suficiente para tirar muita gente da cama disposta a lutar contra a ”doutrinação” que como um espectro, ronda a cabeça de nossas crianças.  

 

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