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Coluna

Dominação sinótica

O sociólogo alemão Max Weber definiu com propriedade os modos de dominação existentes na constelação de interesses que compõem as relações sociais. Elas explicam e tipificam a formaç&at

20 fevereiro 2016 - 14h57

O sociólogo alemão Max Weber definiu com propriedade os modos de dominação existentes na constelação de interesses que compõem as relações sociais. Elas explicam e tipificam a formação dos sujeitos que estão prontos a obedecer e, obviamente, o que esperam quando aderem a estes mesmos tipos de dominação. Desse modo, denomina “legal” a dominação baseada em regras; “tradicional” onde a obediência, agradável ou não, se fundamenta no campo da moral e dos costumes e, por fim, a “carismática” onde a submissão encontra seu alicerce na devoção afetiva ou no reconhecimento.

Tratando especificamente do universo político, ouso uma conversa Weber para acrescentar uma tipologia mais contemporânea de domínio: a “dominação sinótica”. Ela se constitui em uma realidade na qual qualquer uma das três qualidades enumeradas por Weber se tornam insuficientes para o exercício efetivo e duradouro da dominação. Portanto, intuitivamente, a classe política (que certamente em quase sua totalidade não sabe sequer quem foi Weber...) molda sua persona e suas práticas de maneira a manifestar a síntese de tudo que ancora o poder. Vejamos.

Não há um político que se manifeste a margem dos estatutos legais em sua prática. Mesmo os comprovados corruptos, os condenados contumazes e os notórios articuladores das entrelinhas, se mostram como respeitadores e cumpridores da lei. Valorizam nominalmente as carreiras típicas da burocracia, especialmente as tidas como socialmente indispensáveis. Fazem o mesmo com relação ao tradicional. Seus nomes são postos como algo não só natural mas também derivado de uma tradição familiar ou partidária que os credenciam. Tornam-se respeitados ora pelo temor, ora pela admiração, mas sempre por uma lembrança de quem sempre esteve lá, seja no presente, seja pelos antepassados. E, por fim, acrescentam boa dose da dominação carismática, na qual sabem conquistar pelo pathos, pela emoção, as mais variadas cores da alma humana. São na mesma peça teatral o sensível de coração mole, o herói que salva a mocinha e o impiedoso e agressivo antagonista.

Por meio da dominação sinótica tocam a política com a finalidade precípua de garantir prioritariamente seus interesses particulares, seus e dos que se submetem a sua liderança direta como parceiros da empreitada. De modo colateral, tingem políticas públicas que beiram o meramente satisfatório e deixam que os especialistas de marketing façam o favor de nos vender ovos de codorna como se fossem “Fabergé”. Com a aproximação de um novo ciclo eleitoral, não podemos esperar que eles se modifiquem. É no eleitor que reside a esperança de não enganar-se que seus micro-interesses farão parte permanente do grande rateio da riqueza coletiva. Enquanto o voto tiver preço no varejo, melhor para os que praticam a dominação sinótica. É mais fácil, mais barato e com a vantagem de sufocar imediatamente quem não deseja fazer política dessa maneira. “Não têm a menor chance” ou “no final se vendem para nós”. É o que dizem.