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Coluna

Panorama

26 março 2021 - 17h11

MULTIVERSO
Já era pedra cantada que o presidente adotaria a tática de criar para si e para os seus seguidores um universo paralelo feito sob medida. Nessa obra de ficção – e nela apenas – ele governou, apoiou a ciência, deu bons exemplos de comportamento e combate ao vírus, nunca incentivou tratamentos ineficazes e nocivos, não está às voltas com escândalos e suspeições e foi um campeão no desenvolvimento, compra e logística das vacinas. A versão “Bolsonaro Cut” do próprio governo está em cartaz nos pronunciamentos oficiais e nas lives semanais. Marvel e DC que se cuidem...

ELE FICA
Já os cinquenta tons de esquerda precisam entender de uma vez por todas que Bolsonaro não vai cair e a disputa será nas urnas em 2022. O ex-presidente FHC fez uma lúcida leitura sobre a permanência do apoio das elites ao bolsonarismo. Os partidos de centro-direita e seus eleitos, ao que parece, apostam também no presidente e no seu cacife. Até porque, o “projeto Temer” deu lições precisas sobre as vantagens e desvantagens de certas articulações. Mourão é uma esfinge, tornando-se uma aposta arriscada. E o político, geralmente, tem uma natureza avessa ao risco. 

ILUSIONISMO
Em uma combinação de mútuas vantagens eleitorais o presidente e sua base chegaram a um insólito acordo: A partir de agora Rodrigo Pacheco e Arthur Lira serão os articuladores com os governadores, judiciário, comunidade científica, os setores produtivos, representativos e com os próprios colegas deputados e senadores para tentar dar alguma resposta aos múltiplos cenários de colapso e ineficiência. Se der certo, pode recompensar com um cacife eleitoral às excelências... E Bolsonaro, o que fará? Simples, cuidará com esmero de associar cada um dos avanços e conquistas que por acaso surgirem como mérito exclusivamente seu. É o caso da vacinação. E estará livre para continuar a usar pontualmente a retórica que agrada aos sectários como o “tratamento precoce”, ineficácia de isolamento e as fantasmagorias ideológicas. 

MORO
O STF institucionalizou o que qualquer inteligência mediana já sabia sobre a parcialidade de Moro ao julgar Lula. A construção do juiz como um anjo era uma das cenas do script da centro-direita que acreditou que pilotaria o mundo pós-Dilma, pós-Lula e pós-PT. Mesmo com o azarão bolsonarista o ex-juiz encontrou uma brecha para debutar finalmente no meio político. Só esqueceu que nesse teatro de fantoches os cordões estavam nele e não nas suas mãos. Criar anjos não impede que eles caiam...

NOVIDADE
Nada de novo no combate a pandemia. A novidade continua sendo a vacina e ela ainda chega lenta e desorganizada. De resto, continuamos patinando com a falta de consciência e fiscalização e sem a criação ou a atualização dos critérios que estabeleçam os gatilhos correspondentes a dosimetria das medidas, o que até o momento impede que se atue de maneira coordenada nas três dimensões da crise, a biológica, econômica e social. As ações de impacto vêm e vão ao sabor do desespero (e há quem goste de um como oportunidade de promoção política...), na esperança de que um conjunto de qualquer coisa faça qualquer coisa dar certo.