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Coluna

Panorama

12 março 2021 - 21h14

MANOBRA
É desejável que o reconhecimento da parcialidade e da intencionalidade política no julgamento de Lula caia na conta pessoal de Sérgio Moro. Entretanto, se o cozimento desandar, alguém poderá começar a ter a percepção de que o processo fez parte de uma engrenagem complexa que não apenas condenou o ex-presidente, mas mudou o cenário da eleição em 2018. E isso é bastante grave.

EMBATE
Alguns analistas consideram Lula o adversário perfeito de Bolsonaro. Mas não é bem assim. Lula sobe o patamar da disputa e já começou a dar mostras de que vai trabalhar em cima de dados, realizações, planos e metas. Acena com um forte perfil desenvolvimentista e social, aprofundando os alicerces da democracia, da representatividade e da construção de espaços de diálogo e oportunidades para o capital, repetindo a receita de sucesso dos idos de sua parceria com José Alencar. A Bolsonaro todo esse território é sumariamente desconhecido e hostil restando a ele tentar novamente colocar a lide política na sua estatura, o que significa retomar as mesmas estratégias de 2018. Entretanto, dificilmente poderá se apresentar paradoxalmente como não-político, outsider e sem qualquer suspeição direta ou indireta. Pesarão também os deslizes da pandemia, as declarações e o colapso econômico, social, institucional e civilizacional para o qual o país caminha a passos generosos. O que restará então? Conduzir o bolsonarismo como seita e nesse sentido reafirmar a infalibilidade do guia, usar e abusar da desinformação viral, culpabilizar a pandemia e alguns governadores e prefeitos pelo desastre econômico, requentar as teorias de uma abdução comunista, colocar o PT no papel de Pandora e flertar com narrativas de fraudes eleitorais, golpes e intervenções armadas. E torcer que essa mistura se transforme em medo e o medo se transforme em votos.

REALIDADE
Apesar de todo o esperneio ideológico e belíssimos tratados sobre superação de polaridades, a centro-esquerda se defronta com a realidade de que, na incapacidade de produzir uma liderança inconteste e um arco de alianças viável, tem em Lula sua única alternativa consistente e competitiva para derrotar o bolsonarismo. Nenhuma outra candidatura foi capaz de fazer isso em 2018 e sem Lula em 2022 o cenário se diluirá ainda mais com a salada de chuchu dos candidatos da centro-direita.
 
PESCARIA
Os atuais candidatos da centro-esquerda já mostraram o tamanho que tem. Em política quando a cabeça bate no teto a gente se entorta ou se senta. É o caso de Ciro Gomes. Apesar da indiscutível capacidade, há quem o enxergue no campo como um “Bolsonaro de Harvard”. Tem dado mostras de um ego superlativo e muita dificuldade em compor com algo que não seja Ciro. O PDT desde os tempos finais do brizolismo tenta assumir o papel de protagonista ocupado pelo PT na condução das articulações de maior calibre. O problema é que o PDT pesca com linha e anzol e guarda o peixe no isopor do pescador. O PT tem mais traquejo na pesca de rede, onde se faz imperiosa a necessidade de braços. Ou seja, é superior ao compor espaços, unir esforços e criar resultados.