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Coluna

Itinerários de formação

21 janeiro 2022 - 10h35

A construção de itinerários de formação é uma interessante estratégia de atualização das práticas educacionais. Apesar do fato de que em alguns casos os itinerários são usados com intenções reducionistas, não se pode jogar fora a criança com a água da bacia. 

Sabemos que um dos principais problemas educacionais é a sua estrutura. Estudamos como se estivéssemos no século XIX em um mundo de avanços rápidos em todas as áreas do conhecimento no século XXI. Isso significa que recebemos uma educação em descompasso com as transformações e demandas do cotidiano. Isso inclui tanto a disposição teórica quanto metodológica. Se considerarmos ainda que temos profundas deficiências persistentes na formação docente (muitas delas causadas pelo reducionismo e precarização da oferta em nível superior) a resistência às mudanças se torna ainda mais dramática.

É claro que, como dissemos, é importante resistir criticamente às propostas que embrulham um tijolo com papel de presente. Não é de hoje que iniciativas “modernosas” não passam de estratégias ou politiqueiras ou afeitas às demandas de um mercado que deseja lucrar oferecendo mais marketing do que conteúdo significativo. Nesses casos, é muito importante corrigir rumos. 

Em contrapartida, há experiências e iniciativas tanto públicas quanto privadas que são muito interessantes e bem construídas. Essas é que precisamos estudar, testar, aplicar e expandir. O imperativo da realidade pede isso.
Um ponto de inflexão é um mau-hábito da educação brasileira de querer introduzir novidades pedagógicas sem as devidas bases. É da nossa matriz política inaugurar um lindo telhado reformado e pintado numa casa quase ruindo nas suas paredes e alicerces. Isso significa que questões de base precisam ser vistas de modo inescapável como a questão da formação e remuneração docentes (o que inclui a formação continuada e a progressão de carreira), a estruturação física e material das escolas e uma definição melhor sobre a autonomia escolar e de cada ente federativo.

Itinerários de formação é uma estratégia de direcionamento de aprendizagem, competências e habilidades conduzidos em um conjunto de áreas afins que possibilitam o acesso focal a conhecimentos, práticas e valores conforme a zona de interesses e aptidões. 

Pode tanto atender a uma profissionalização específica quanto servir de etapa intermediária (ou de acesso) a estudos superiores mais aprofundados. 

Há o entendimento de que isso possibilitaria maior engajamento e progressão dos alunos, tendo em vista muitas vezes se encontrarem retidos em etapas de aprendizagem em função de conteúdos que não fariam parte da sua zona de interesses e não teria aplicação teórica ou prática nas suas pretensões. Faz sentido, mas não todo o sentido. 

É preciso considerar a necessidade de participação na cultura e no conhecimento sob a perspectiva do patrimônio humano e cidadão. Isso significa que devemos respeitar e investir em uma formação de base que dê aos alunos as condições necessárias para escolher e se desenvolver em igualdade de condições os campos futuros de investimento cognitivo. O que reforça essa visão é que o conhecimento, mesmo na forma de itinerários específicos em determinadas áreas, não funciona de modo isolado. É preciso possuir as condições de transitar por diferentes saberes.

A partir dos itinerários podemos definir trilhas de aprendizagem. Elas são uma forma de organizar os itinerários de maneira muito interessante. Estabelecem a progressão em níveis e etapas conforme a complexificação da formação. Esse assunto vamos retomar no próximo artigo.