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Coluna

Educação, política e politicagem

25 agosto 2023 - 10h20

Há diferenças entre fazer política de educação e politicagem com a educação. A política de educação é processual. Isso significa que sua característica mais evidente é o dinamismo, uma vez que ao perseguir patamares de qualidade, efetividade e cidadania, são necessárias etapas importantes como a construção de bases de análise, planejamento, ações e ciclagens de avaliação e reposicionamento de estratégias. Todos os países que conseguiram atingir níveis de excelência na oferta da educação pública e popular entenderam e pactuaram entre as diferentes nuances do espectro político a manutenção do processo como pertinente ao Estado, ou seja, um compromisso de qualquer governo.

A política de educação possuiu seis dimensões interligadas e que não devem ser pensadas sob a perspectiva hierárquica. Elas não formam engrenagens independentes da mesma máquina, metáfora cara ao nascimento da educação de massas do período industrial, mas como instâncias operacionais que funcionam como um organismo, concepção mais adequada à sociedade de rede contemporânea. Expliquemos de modo mais didático:

A primeira é a dimensão pedagógica. Em uma rede de ensino, essa dimensão se traduz pelo fluxo continuado de estudos teóricos e aplicações metodológicas, constituindo um campo aberto à inovação, estimulando novas práticas, aprimorando ou aplicando as existentes como soluções viáveis conforme o contexto escolar. Não se trata de uma ditadura pedagógica, mas um ambiente de promoção do pensamento. A segunda, que se insere aqui na primeira, é a metodológica. A terceira é a social, uma vez que a escola pública desempenha importantes funções de socialização, proteção e suporte às vulnerabilidades. A quarta dimensão é a estrutural. Não se pode levar a sério qualquer iniciativa pedagógica, inclusiva ou socializante sem estrutura e isso implica instalações, insumos e manutenção continuada. A quinta é a indutora, que contempla no grande organismo os investimentos financeiros nas dimensões anteriores e acrescenta a remuneração adequada dos profissionais da educação, além das condições para o exercício e progressão na carreira. Por último, a dimensão política, uma vez que é ela quem pode mover, paralisar, distorcer ou destruir todas as demais dimensões.

Infelizmente essa visão é uma exceção. A regra na gestão pública da educação no Brasil tende mais à politicagem. Como ela se mostra? Com o uso da educação como culto à personalidade, governo ou ideologia; com a gestão educacional entregue nas mãos de prepostos profissionais de políticos; pelo império da burocracia totalitária, pelo ilusionismo propagandista que prioriza arbitrariamente poucas escolas para que elas possam ser as estrelas das redes sociais, dando a ilusão de que todas são assim; com o amadorismo grosseiro nas estratégias; com a transferência deliberada e hipócrita do fracasso para a ponta, pela falta de investimentos e pela crença bizarra de se transformar em “conquistas” a mera correção de aberrações de gestões anteriores.