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Coluna

Educação integral x escola integral

06 fevereiro 2023 - 10h59

Educação integral e escola integral comumente são confundidas como se fossem a mesma coisa. Quando usamos o termo integral para designar um tipo de educação, afirmamos uma escolha que considera a formação do ser humano sob múltiplos aspectos como os cognitivos e socioemocionais.

Infelizmente ainda existem muitos que acreditam e defendem que a educação tenha por objetivo apenas preparar trabalhadores úteis. Educar para o trabalho é uma das finalidades, obviamente, e se reveste da maior importância. Porém, não é o único objetivo do ato de educar. Se considerada apenas desse modo caímos em um perigoso reducionismo que transforma as suas possibilidades em um reduzido escopo que se autoafirma. E o que seria isso? Uma educação que gira em torno apenas de círculos de preparação para testes, processos seletivos e aferição de supostos “indicadores de desempenho”, fazendo com que ela passe a ter uma finalidade que se encerra nesses momentos.

O sucesso na educação ou pela educação tornou-se uma mercadoria e, como tal, é disponível e atingível conforme a capacidade de consumo de quem a ela recorre. Produto que se tornou, alterna suas “qualidades e possibilidades” entre os que podem pagar caro pelos “pacotes premium” e aqueles que pagam por meio dos seus impostos o bastante para que o direito ao acesso básico seja garantido. Mas quando falamos de educação integral rompemos com essa visão mercadológica e passamos a adotar suas múltiplas possibilidades. Dentre elas, o desenvolvimento das inteligências, dos aspectos relacionais, dos fundamentos da cidadania, da participação na cultura humana e socialmente produzida, da capacidade contemplativa ao conhecimento, do desenvolvimento físico, da afirmação científica, da capacidade filosófica, da criatividade, da inovação e, sobretudo, da felicidade.

E se isso tudo (e muito mais) é a educação integral, ela só pode ser garantida pela escola integral? Não é bem assim.

A escola integral se refere ao tempo da oferta das atividades escolares. Sendo assim, dobrar a oferta de uma escola ruim, precária ou que não está preparada para uma educação integral de nada adianta. Pelo contrário, pode ser pior. Uma escola integral que tenha a capacidade de atender às múltiplas demandas de uma educação integral precisa estar estruturada, equipada e com todos os insumos necessários. Além disso, necessita de uma organização pedagógica diferenciada, com profissionais qualificados e uma ampla variedade de programas e projetos nas áreas do conhecimento, das artes, dos esportes, das práticas sociais, entre outros.

Em resumo, conjugar a educação integral com a escola integral é um desafio. Implantá-las exige uma mudança radical por parte de empresas e, especialmente, gestores públicos. No âmbito público, o primeiro passo é desassociar a visão da educação como um gasto. Isso inclui seus prédios, recursos e profissionais. Se encarada como serviço que tem um preço, dificilmente vai conseguir produzir escolas com o protagonismo e relevância necessárias. E é desnecessário dizer que em uma visão desse tipo é praticamente impossível pensar e realizar a educação integral em escolas integrais.  Se entendida como um direito e compreendido o seu impacto nas relações sociais das comunidades que atendem dá-se o primeiro passo. Se considerada em sua natureza derivada do investimento não de governantes ou governos, mas da sociedade no seu processo de produção de riquezas, dá-se o segundo. Se geridas com a liberdade de atender às condições necessárias para a educação e a escola integrais como turmas com menos alunos, mais recursos e profissionais mais bem remunerados e qualificados, dá-se o terceiro. Três passos para fazer a diferença.