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Coluna

Domador de docentes

07 abril 2023 - 06h24

É bastante difundida no meio educacional a noção de burocracia. Até certo ponto, a produção documental se presta ao serviço de auxiliar no processo de organização de atividades e leitura mais acurada do desenvolvimento da relação de ensino/aprendizagem. Entretanto, esse entendimento é minoritário e dissonante. Talvez a história ajude um pouco a entender a razão disso.

A burocratização das práticas educacionais nasce a partir da apropriação do modo de produção fabril capitalista. Assim, padronização de formas (como o uniforme), fixação em “grades” e condicionamento da oferta do conhecimento em “disciplinas” (que remonta ao estado controlado do corpo para o seu recebimento e compreensão) fazem parte desse escopo burocrático.

Esse passado foi o ovo da serpente. A criatura que eclodiu, no entanto, tornou-se o alfa e o ômega das relações educacionais. É a burocracia totalitária. A burocracia totalitária tornou-se o mecanismo de mediação e controle na educação pública. Na sua obra “Homo Deus”, o historiador Yuval Noah Harari nos adverte que “à medida que acumulam poder, as burocracias se tornam imunes aos seus erros. Em vez de mudar sua história para se adequar à realidade, elas são capazes de mudar a realidade para adequá-las às suas histórias.”

Atualmente, a burocracia educacional é algo que se limita a impor uma produção artificial (criação de relatórios e mais relatórios compulsórios), que criam realidades que só precisam existir no papel e que venham acompanhadas de outros papéis para demonstrar que essa fantasia é uma fantasiosa realidade. Ou uma realidade que confirme a veracidade da fantasia. Pouco importa. O que importa é que é um produto que sai de si e volta para si. Ou seja, a burocracia serve para controlar o corpo que as estruturas de poder pagam para criar o mundo que elas desejam ver estampados nos formidáveis formulários.

O grave, é que esse tipo de estrutura apenas justifica o ser do poder. Cargos, posições, a divisão dos que dominam e os que não dominam a “autoridade pedagógica”, os que vigiam e os vigiados. E como a burocracia totalitária não tem esse nome por acaso, ela é coercitiva. É compulsório ver nela sentido e obedecê-la. Caso contrário, as punições são exemplares e concretas. Mais até. A burocracia totalitária afirma te pagar para atendê-la a seu modo. Portanto, é esse o seu verdadeiro amo e senhor. Cumpra-se, seja lá o que se dê aos seus empenhados porta-vozes. A burocracia cria a sua realidade e ajuda a manter o status e o controle do “pedagógico” nas mãos de uma casta aninhada no centro das instituições de poder. Não é à toa que tantos desses burocratas vestem a fantasia de tecnocratas e defendem com ferocidade o modelo que os credencia a manter-se ou galgar mais alguns degraus no olimpo do poder institucional e governamental.

Sendo assim, o único serviço real da burocracia totalitária é a de mostrar que, com o estímulo certo, o educador pode se tornam o domador de outros educadores.