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Coluna

A vitória da política

13 dezembro 2022 - 15h48

O planejamento político e o governamental são duas ações imprescindíveis. Atualmente, a simples ação de distribuição de espaços na máquina pública movida pela crença do retorno em votos é tanto improdutiva quanto desesperada. Não é incomum que grupos políticos tenham que fazer composições. Na verdade, isso caracteriza o mecanismo da governabilidade. A questão é como esses arranjos vão estar em sintonia com o projeto maior.

Trocando em miúdos, temos ao menos três exemplos, com consequências distintas. Quando um governante monta um grupo executivo heterogêneo demais, acreditando que a soma das partes vai gerar um todo virtuoso em votos, temos uma fortíssima tendência ao “cada um por si”, ou seja, vários projetos pessoais concorrendo entre si e não se importando com a decadência do governo, já que o ônus recairá na figura do governante. Já quando um governante realiza incessantes trocas e orienta a máquina pública ao sabor das oportunidades eleitorais de curto horizonte, colhe a desconfiança interna, o afastamento de aliados potencialmente interessantes e, novamente, torna-se apenas um meio para que projetos individuais aproveitem a oportunidade, e só.  Mas os que possuem um projeto político e governamental, sabem para onde ir e como desejam chegar. Isso significa que as escolhas passam a ser qualitativas e estratégicas, cujo produto se reverte em reconhecimento por parte da população da eficiência, eficácia e materialidade das ações (e não as surradas propagandas hiperbólicas ou o histrionismo dos puxa-sacos digitais). Aqui, o projeto forma o governante e isso é muito mais forte do que qualquer estratégia medíocre de empreguismo e concessão de vantagens.

Isso tem a ver com a qualidade das pessoas públicas. Seu preparo, sua capacidade real. Tem a ver com a habilidade de formar equipes pensantes e executivas antes e durante os mandatos. É assim que as democracias se consolidam, pois dão às instituições que a compõem a credibilidade e a importância, posto que delas depende a dignidade das nossas vidas. Para tal, é necessário mudarmos o comportamento. Maus políticos acreditam que a máquina pública é um domínio pessoal, onde podem exercitar sua tara perversa em fazer com que uns os adulem por migalhas, outros rastejem inutilmente e outros sejam maldosamente perseguidos ou alijados. É uma conta eleitoral feita com o fígado. E como em política a mágoa nada constrói, se tornam perdedores fragorosos, cedo ou tarde.

Bons políticos são conhecidos pela capacidade de formar bons grupos. E bons grupos planejam e executam grandes governos. E grandes governos se revertem em capital político para outras eleições e, o principal, em um povo satisfeito. Não é tarefa para qualquer um. 

Há um cansaço da velha pasmaceira de que todo o governo recebeu uma terra arrasada e fez a mais extraordinária administração do sistema solar. Há uma saturação do culto à personalidade, tão anacrônica quanto entediante. Hoje se percebe com mais clareza que as pessoas públicas são exatamente isso, pessoas, eivadas das suas possiblidades, habilidades e contradições. São, portanto, seres históricos, marcados por um tempo, um espaço e uma sociedade. Sendo assim, as narrativas surradas de que determinados políticos fazem as coisas pela singular predileção divina por sua sacrossanta pessoa, de sua pertença absoluta e indissociável em ser o único “do bem” e coisas assim, só enfastiam e tornam as eleições meras disputas por gordos penduricalhos. Quem antecipa governa formando grupos efetivamente competentes e capazes, com uma liderança comprometida e apta e dialogar e a produzir o viável e os consensos necessários, mas com metas a alcançar, para onde ir e como deseja conduzir o poder que lhe foi conferido.